1 - Misael: impossível que o Dilúvio Bíblico e a Arca de Noé tenham existido.
Teria ocorrido por volta de 4000 anos atrás.
Este "mito" não é apoiado pela ciência em nenhuma área.
Acreditar que tal catástrofe aconteceu meramente porque está escrito na Bíblia leva a um perigoso caminho de negação da ciência e da realidade.
2 - Juninho Biólogo:
Se apresenta como biólogo e afirma que trará apontamentos acadêmicos.
Ressalta que haveria água suficiente para o Dilúvio, baseado na questão de que somo o planeta água e livro de Adauto Lourenço.
3 - Misael: afirma que precisaria cobrir o Ararate, e aponta oito quilômetros para tal cobertura.
4 - Juninho Biólogo confirma a afirmação.
5 - Misael afirma que, mesmo com a água do interior da Terra, seriam cobertos apenas 65 metros (e Juninho Biólogo insiste que haveria).
[Na observação que parece ser do próprio canal do Youtube que proporcionou o debate, temos:
A Terra tem cerca de 1.386 bilhão km³ de água. Se essa água fosse espalhada uniformemente pela área do planeta (510 milhões de km²), a lâmina altura dessa água seria de aproximadamente 2,7 km. Isso faria submergia a maior parte dos continentes atuais, mas picos mais altos (como o Everest, de 8.848 km) ainda ficariam acima do nível da água.]
https://www.youtube.com/watch?v=ZPDckLvj4JA&list=TLPQMjkxMjIwMjXX4qEZYOSijA&index=2
[Minutos 40:23 a 43:Observação de Célio João Pires: Misael está confundindo degelo glacial com a água do interior da Terra, que daria para fazer uns 05 (cinco) oceanos do tamanho que nós temos. Misael não conheceria os artigos científicos que tratam destes temas. Uma descoberta de moléculas de diamante em Minas Gerais e a verificação da área e profundidade leva à ideia de vários oceanos, ou seja, haveria sim condições de tornar a Terra um planeta aquático.
Outro ponto abordado é que a configuração do planeta era diferente, e não havia montanhas/montes tão altos. As rochas sedimentares constituem 5% do volume e 75% da superfície da crosta. Sedimentação acontece na presença de água/lama e vento. Para rochas sedimentares cobrirem 75% da superfície, a implicação é uma catástrofe planetária para erosão tão grande.
Megasequências: pacotes de sedimentos que se depositaram no mundo todo; separadas por superfícies planas e erodidas, chamadas de profundidades; 6 megasequências de rochas; Há elevação de águas em cada uma delas. Sequências de rochas sedimentares.].
Juninho Biólogo: fala do livro de Adauto Lourenço, e ressalta que o autor é Físico. Misael pergunta sobre a metodologia usada no livro e se foi revisado por pares.
[Observação de Célio João Pires: 53:00 até 54:55- artigos e livros de grandes cientistas não teriam validade, por esta linha de pensamento do Misael. Qual a confiabilidade/validade da revisão por pares? Em 2023, foi feita uma retratação de 10.000 (dez mil) artigos do site Elsevier, por inconsistências e/ou fraudes, e a Science publicou em 2018 um artigo mostrando mais de 18.000 (dezoito mil) artigos retratados por inconsistências e/ou fraudes. Apesar de não ter formação na área, Célio estudou Geologia por 9 anos para fazer seu trabalho sobre o Dilúvio.]
https://www.revistaquestaodeciencia.com.br/artigo/2023/01/13/quase-5-mil-artigos-cientificos-foram-retratados-em-2022
Quase 5 mil artigos científicos foram retratados em 2022
O mundo da ciência observou um novo aumento no número de artigos retratados – isto é, removidos da literatura científica pelas mais diversas razões, de simples repetições e erros a casos de má conduta, como fraudes e fabricação de dados – em 2022. Levantamento no banco de dados do Retraction Watch, site dedicado a monitorar este tipo de ação, fundamental no processo de autocorreção da ciência, mostra que quase cinco mil artigos científicos foram alvo de retratação no ano passado, dos quais ao menos 23 com a participação de pesquisadores brasileiros. Em 2021, o mesmo banco de dados registrou pouco mais de 3,7 mil retratações, 12 envolvendo autores ou coautores brasileiros.
A proporção de artigos científicos retratados em relação aos publicados também vem crescendo ano a ano. Em texto com retrospectiva das principais ações do site no ano, Ivan Oransky, um dos fundadores do Retraction Watch, destaca que ela chegou a cerca de oito a cada dez mil estudos publicados, inferior apenas a pico observado em 2015, quando esta proporção atingiu próximo a 10 em dez mil estudos, que creditou tanto à demora nos processos de retratação quanto ao aumento do escrutínio da comunidade científica.
E é justamente graças ao trabalho, muitas vezes voluntário, de cientistas e investigadores amadores que muitos dos artigos com problemas são detectados. É o caso, por exemplo, da microbiologista holandesa Elisabeth Bik, que se tornou conhecida no meio acadêmico por suas denúncias de violações da integridade científica em estudos publicados. No apagar das luzes de 2022, a editora PLOS colocou sob suspeita quase 50 artigos com coautoria de Didier Raoult, médico francês responsável pelo estudo fraudulento que promoveu a cloroquina como possível tratamento para a COVID-19, por potenciais violações éticas, graças a denúncias dela.
Mas Bik nem de longe é a única. Em lista das principais retratações registradas em 2022, a revista The Scientist inclui um grupo de pesquisadores do estado americano de Michigan que relacionou estudos publicados a textos oferecidos por uma fábrica de artigos – conhecidas pela expressão em inglês paper mills –, em que cientistas podem literalmente comprar vaga numa lista de autores. O trio formado por Brian Perron, da Universidade de Michigan, Bryan Victor, da Universidade Estadual Wayne, e o estudante de ensino médio Oliver Hiltz-Perron havia divulgado uma lista com quase 200 artigos suspeitos, muitos deles publicados no International Journal of Emerging Technologies in Learning, no site do Retraction Watch em 2021. No ano passado, o periódico decidiu pela retratação dos estudos.
Em outro caso de retratações em massa citado pela The Scientist, a editora IOP, especializada em física, removeu centenas de artigos de seus periódicos depois que Nick Wise, pesquisador da Universidade de Cambridge especializado em dinâmica de fluidos, alertou ter encontrado um estranho padrão nos títulos de alguns estudos. Após investigação, a IOP descobriu mais artigos suspeitos e concluiu que eles se originaram de uma paper mill, retratando um total de 850 estudos, 350 em fevereiro e outros 500 em setembro de 2022,
As fábricas de artigos, porém, não foram as únicas fontes de fraude. Fechando sua lista, a The Scientist cita diversos casos em que estudos foram retratados por manipulação do processo de revisão por pares (peer review). Em outubro, por exemplo, o periódico Thinking Skills and Creativity, da editora Elsevier, retratou quase 50 artigos por esta razão. Já o International Journal of Electrical Engineering & Education, da editora SAGE, removeu mais de 120 estudos de seus anais, trabalhos que apresentavam vários indicativos de manipulação ou má qualidade da revisão por pares. Em agosto, o periódico PLOS ONE anunciou a retratação gradual de cerca de cem estudos em que os autores teriam tirado proveito da possibilidade de sugerir editores para seus artigos para indicar nomes sem revelar potenciais conflitos de interesse, como colaborações recentes ou afiliação às mesmas instituições.
E, no maior “escândalo” do tipo no ano, em setembro de 2022 a editora Hindawi, do grupo Wiley, anunciou a retratação de 511 artigos publicados em 16 de seus periódicos depois que uma investigação revelou uma verdadeira rede de revisores e editores que manipulava o processo de revisão por pares. A equipe de integridade científica da Hindawi encontrou casos de revisões duplicadas, isto é, com o mesmo parecer usado em artigos diferentes, um elevado número de revisões sendo realizadas por um único revisor, revisores que emitiam seus pareceres extremamente depressa e o mau uso das bases de dados das publicações para vetar revisores potencialmente mais rigorosos.
Apesar do aumento no número de retratações, a comunidade científica ainda tem muito trabalho pela frente para enfrentar a má conduta. Em texto publicado pelo próprio Oransky na prestigiosa revista Nature em agosto do ano passado, o cofundador do Retraction Watch estima que algo como um em cada 50 estudos publicados, ou seja, 2%, cairia em pelo menos um dos critérios para retratação delineados pela iniciativa COPE (sigla em inglês para Comitê de Ética em Publicação), entre eles “claras evidências de que os achados não são confiáveis”, seja por falsificação de dados, plágio, manipulação da revisão por pares ou outros erros não intencionais ou fraudulentos, como uso de linhagens celulares contaminadas nas pesquisas ou outras falhas no dia a dia dos laboratórios.
Assim, argumenta Oransky, embora o aumento do escrutínio público das publicações - inclusive com denúncias em redes sociais, em iniciativas coletivas como o PubPeer.com e até para a imprensa generalista - tenha levado alguns periódicos e editoras a contratar profissionais para cuidar especificamente da integridade científica e criar colaborações como o STM Integrity Hub, para compartilhar técnicas e ferramentas para detectar e combater a má conduta, os sistemas e processos de retratação em geral ainda são “comicamente desajeitados, lentos e opacos”, podendo demorar anos.
Pior, aponta Oransky, são os casos de artigos que, apesar de retratados, continuam a basear ou informar outras pesquisas e a serem citados, “contaminando” a literatura científica. Para além do caso emblemático do estudo fraudulento do ex-médico britânico Andrew Wakefield que relacionou a vacina tríplice viral com casos de autismo – só retratado pela revista Lancet em 2010, 12 anos depois de sua publicação em 1998, e que até hoje alimenta movimentos antivacina -, ele dá como exemplo levantamento publicado em setembro do ano passado com mais de 400 pesquisadores na área de anestesiologia no qual 89% admitiram não saber que ao menos um dos artigos citados em seus estudos recentes havia sido retratado, em geral por não terem prestado atenção aos avisos de remoção nos sites dos periódicos ou bases de dados (62%), ou por terem usado uma cópia armazenada de ditos artigos (11%).
“Limpar a literatura vai requerer mais que apenas alertas para autores que estão elaborando listas de citações. As editoras devem incorporar checagens confiáveis de retratações nos seus processos de submissão e revisão (de artigos)”, recomenda Oransky. “As retratações devem ser apoiadas como parte essencial de uma ciência saudável. Os investigadores devem ser remunerados e ter acesso a ferramentas que melhorem sua caçada por erros e fraudes – e não enfrentar a ridicularização, assédio e ameaças de ações judiciais. As editoras devem criar um fundo para pagá-los, algo similar aos ‘prêmios por bugs’ que recompensam hackers que detectam falhas em sistemas de segurança computacionais. Ao mesmo tempo, as instituições devem avaliar apropriadamente pesquisadores que querem honestamente corrigir a literatura. As retratações não devem ser destruidoras de carreiras, e aqueles que buscam corrigir erros honestos devem ser celebrados”.
https://www.scielo.br/j/rbsmi/a/xfMXmFJrVWN83SF6qxgpxWt/?lang=pt
PONTO DE VISTA • Rev. Bras. Saude Mater. Infant. 25 • 2025 • https://doi.org/10.1590/1806-9304202500000368
Open-access A crise na integridade científica e suas implicações
Text
Referências bibliográficas
Datas de Publicação
Histórico
Introdução
A ciência, enquanto empreendimento coletivo da humanidade, construiu-se gradativamente sobre pilares epistemológicos, éticos e normativos de modo a assegurar cada vez mais a credibilidade e a consistência de seus achados.1 O ethos científico, proposto pelo sociólogo Robert Merton, 1974, refere-se ao conjunto de valores e normas que orientam a conduta científica e garantem sua integridade. Entre esses valores estão o universalismo (o conhecimento científico deve ser avaliado de maneira objetiva, independentemente de quem o produziu); o desinteresse (os cientistas devem colocar o avanço do conhecimento acima de interesses pessoais ou comerciais); o comunalismo (o compartilhamento aberto dos resultados e métodos, garantindo acesso e verificação por toda a comunidade); e o ceticismo organizado (a avaliação crítica constante, o questionamento sistemático das evidências e teorias apresentadas).1
Esses valores devem - ou ao menos deveriam - guiar a prática científica, estabelecendo padrões éticos e metodológicos para a produção e validação do conhecimento. Contudo, apesar de em teoria perseguir tais ideais, o sistema contemporâneo de produção científica enfrenta problemas estruturais que minam a integridade da pesquisa e sua capacidade de produzir conhecimento confiável.2
O caso de retratação de 34 artigos de um pesquisador brasileiro pelo periódico Science of the Total Environment (STOTEN) em 20243 expôs fragilidades preocupantes no sistema de publicação científica, chamando a atenção para lacunas nos processos editoriais e de revisão por pares. Acusações que incluem uso de informações fictícias - como e-mails falsos de pareceristas - colocam em xeque não apenas a credibilidade individual do pesquisador, mas deixam clara uma vulnerabilidade estrutural na ciência contemporânea.
Esta “crise de integridade científica” não é um fenômeno isolado. Nos últimos anos, o número de artigos científicos retratados cresceu significativamente, revelando falhas sistêmicas no escrutínio da produção acadêmica. Em 2023, 10 mil artigos sofreram retratação até a primeira semana de dezembro,4 sendo que, apenas na temática COVID-19, mais de 450 artigos foram retratados até o final de 2024.5 Apenas para ter dimensão deste problema, embora os 34 artigos retratados sejam um marco assustador para os pesquisadores brasileiros, o recorde pertence ao anestesiologista Joachim Boldt, o primeiro autor com mais de 200 artigos retratados (cerca de metade de suas 400 publicações).6
Uma revisão por pares insustentável
Historicamente, a submissão de manuscritos a outros cientistas capazes de avaliar o rigor metodológico, originalidade e relevância consolidou-se como um filtro de qualidade antes da publicação de um artigo. Seria uma forma de colocar em prática o ceticismo organizado, permitindo que uma amostra da comunidade científica avaliasse o trabalho antes mesmo de ele ser divulgado ao público.7
Entretanto, com o tempo, esse processo passou a ser visto como um rito burocrático que confere um “selo de aprovação” imutável que atesta: revisado por partes e publicado na revista “x”. Essa busca por um selo de qualidade, porém, contrasta com a complexidade do sistema, o crescimento exponencial do número de periódicos e artigos, a falta de incentivos aos revisores (que atuam voluntariamente) e as pressões crescentes sobre os pesquisadores. Tudo isso expõe fragilidades no modelo, tornando a revisão por pares mais permeável a falhas.8
Os revisores de periódicos possuem uma responsabilidade maior do que muitas vezes lhes é atribuída. A vasta maioria atua voluntariamente, acumulando mais uma função além de suas inúmeras atribuições. Essa sobrecarga se torna insustentável a longo prazo e compromete a qualidade da revisão. Como afirmou Bertrand Russell9: “É óbvio que um sistema que exige qualidades excepcionais dos seres humanos só excepcionalmente terá êxito”.
Em um cenário de alta pressão, dois ou três revisores sobrecarregados acabam definindo o destino de um artigo, sem que haja uma visão mais ampla da comunidade científica - ou, quando há, é tarde demais. Além disso, brechas sistêmicas agravam a situação, como a prática de sugerir revisores, o que permitiu no recente caso brasileiro o uso de contas de e-mail falsas.10 A falta de verificação mais rigorosa pelo corpo editorial demonstrou outra grave vulnerabilidade: a ausência de auditorias sistemáticas e mecanismos robustos de autenticação em processos editoriais científicos.11
Produtividade, diluição do rigor e impacto no ecossistema científico
O foco excessivo em métricas quantitativas, como o fator de impacto e o índice H, gera incentivos que se distanciam da integridade científica. Pesquisadores pressionados a “publicar ou perecer” procuram maximizar a quantidade de artigos em detrimento da qualidade, favorecendo a proliferação de revistas predatórias. Essas revistas, em troca de dinheiro, publicam virtualmente qualquer material, ignorando protocolos científicos e éticos e comprometendo a credibilidade da ciência.12
Exemplos extremos, como o caso do entomologista Matan Shelomi, que submeteu um artigo fictício sobre o consumo do Pokémon Zubat desencadeando um surto de COVID-19, expõem a ausência de qualquer tipo de escrutínio em revistas predatórias.13 Essa foi uma maneira caricatural de escancarar o perigo da desinformação e da falta de controle de qualidade, prejudicando a credibilidade do sistema editorial científico, cujas falhas impactam em revisões sistemáticas, na síntese de evidências, na tomada de decisão clínica, na saúde pública e na confiança social na ciência.12,13
A questão não é apenas metodológica; é cultural. Em um ambiente em que a produtividade é mais valorizada do que a qualidade intrínseca, o próprio revisor (incluindo a revisão por pares em bancas de mestrado e doutorado) se sente pressionado a cumprir prazos e manter boas relações com os pares, resultando na aprovação de trabalhos com qualidade mediana ou falhas metodológicas. Com isso, a revisão por pares não se sustenta como filtro absoluto de qualidade, precisando ser repensada e complementada por mecanismos mais transparentes e democráticos de escrutínio científico.11
Quando a revisão por pares falha, o artigo inadequadamente publicado provoca danos irreparáveis, mesmo após a retratação. O estudo fraudulento de Andrew Wakefield, associando vacinas ao autismo, deixou um rastro pseudocientífico que até hoje alimenta movimentos antivacina e polui o ecossistema científico.14 O mesmo pode ser dito do recém-retratado estudo “pioneiro” da cloroquina como tratamento para COVID-19, capitaneado por Didier Raoult.15 Esses exemplos icônicos mostram que os impactos causados por uma notícia falsa - em especial quando esta nasce em um “berço científico” - raramente são revertidos por completo.
As consequências das retratações vão além dos artigos e das informações em si; elas abalam a confiança no sistema científico como um todo ao revelarem publicamente que grandes editoras falham em prevenir práticas antiéticas, erodindo a confiança da sociedade na ciência em tempos de desinformação. Coautores e colaboradores idôneos e sem envolvimento direto nas irregularidades também veem suas reputações afetadas. Casos como o da revista STOTEN, suspensa do Science Citation Index Expanded, revelam o preocupante quadro de “produção industrial de artigos” (paper mills) e a pressão por produtividade acadêmica.16
A falta de valorização da reprodutibilidade é outro problema cultural que agrava este cenário. Uma ciência robusta requer que achados possam ser confirmados por diferentes pesquisadores, em contextos diversos. Ainda assim, estudos de produtibilidade não recebem o devido reconhecimento.17 Nesse mesmo contexto, críticas bem fundamentadas a artigos já publicados são marginalizadas, como se a avaliação crítica de publicações que já passaram pela revisão por pares fosse um trabalho de menor relevância. Mais grave que isso: pesquisadores que se dedicam a avaliar criticamente a evidência publicada são muitas vezes taxados de “invejosos” ou “desocupados”, como se apenas a inovação (muitas das vezes acrítica e sem reprodutibilidade) fosse o motor da ciência.
Essa visão é bastante equivocada. A crítica bem fundamentada é parte integrante do progresso científico, corrigindo erros e reforçando a solidez das evidências. Pesquisadores que apontam inconsistências e fraudes contribuem para a saúde do ecossistema científico, ajudando a detectar problemas e a orientar retratações. Iniciativas como o PubPeer e o Retraction Watch mostram a importância de uma comunidade engajada em críticas sistemáticas da evidência publicada.18 Ademais, a implementação de políticas institucionais e de agências de fomento inspiradas em diretrizes como a Declaração de São Francisco sobre Avaliação de Pesquisa (DORA) pode ajudar a deslocar o foco do volume de publicações para a qualidade intrínseca, a robustez metodológica e o impacto real no conhecimento.19
Considerações finais
O aumento do número de retratações de artigos reflete tanto a proliferação de “paper mills” quanto a crescente vigilância da comunidade científica. Se a crise de integridade é preocupante, os esforços para identificá-la e corrigi-la demonstram que há fôlego para reformas. Algumas iniciativas podem fortalecer este movimento, como maior transparência no processo editorial, valorização da crítica e da reprodutibilidade, além de revisão pós-publicação que seja capaz de diferenciar estudos corrigíveis de fraudes. Além disso, a educação ética e o combate a práticas antiéticas são fundamentais para reduzir a pressão por publicações a qualquer custo.
Apesar dos desafios, essa crise não invalida a ciência, pois sua força está na capacidade de se corrigir e evoluir. A própria existência de retratações evidencia seus mecanismos de autocorreção, ainda que imperfeitos. A ciência se fortalece ao abraçar a crítica e se ajustar constantemente. O verdadeiro desafio, portanto, é o de reafirmar a Ciência como um processo transparente e rigoroso, essencial para preservar sua credibilidade diante do negacionismo e da desinformação.
Referências bibliográficas
1Merton RK. The sociology of science: theoretical and empirical investigations. 4. Dr. Chicago: Univ. of Chicago Press; 1974.
2Macfarlane B. The DECAY of Merton’s scientific norms and the new academic ethos. Oxf Rev Educ. 2024; 50 (4): 468-83.
3Alerta de Revistas Predatórias Brasileiras. Pesquisador brasileiro tem 38 artigos retratados por fraude. [Internet]. [access in 2025 Jan 15]. Available from: https://www.arpbrasil.org/maconduta/pesquisador-brasileiro-tem-38-artigos-retratados-por-fraude
» https://www.arpbrasil.org/maconduta/pesquisador-brasileiro-tem-38-artigos-retratados-por-fraude
4Van Noorden R. More than 10,000 research papers were retracted in 2023 - a new record. Nature. 2023; 624 (7992): 479-81.
5Retraction Watch. Retracted coronavirus (COVID-19) papers. [Internet]. Retraction Watch. 2024. [access in 2025 Jan 15]. Available from: https://retractionwatch.com/retracted-coronavirus-covid-19-papers/
» https://retractionwatch.com/retracted-coronavirus-covid-19-papers/
6Retraction Watch. A retraction milestone: 200 for one author. [Internet]. Retraction Watch. 2024. [access in 2025 Jan 15]. Available from: https://retractionwatch.com/2024/05/22/a-retraction-milestone-200-for-one-author
» https://retractionwatch.com/2024/05/22/a-retraction-milestone-200-for-one-author
7Huutoniemi KI. Peer review: Organized skepticism. In: Wright J, editor. International Encyclopedia of the Social & Behavioral Sciences. Oxford: Elsevier Scientific Publ. Co; 2015. p. 685-9.
8Manchikanti L. Medical Journal Peer Review: Process and Bias. Pain Physician. 2015; 18; 1 (1;1): E1-E14.
9Russell B. In praise of idleness and other essays. London, New York: Routledge; 2004.
10O Globo. Cientista brasileiro tem 34 estudos cancelados suspeitos de fraude [Internet]. 2024. [access in 2025 Feb 19]. Available from: https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2024/12/06/cientista-brasileiro-tem-34-estudos-cancelados-suspeitos-de-fraude.ghtml
» https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2024/12/06/cientista-brasileiro-tem-34-estudos-cancelados-suspeitos-de-fraude.ghtml
11Pierson C. Fake science and peer review: Who is minding the gate? [Editorial]. J Am Assoc Nurse Pract. 2014; 26 (1): 1-2.
12Kurt S. Why do authors publish in predatory journals? Learn Publ. 2018; 31 (2): 14-7.
13Shelomi M. Opinion: Using Pokémon to Detect Scientific Misinformation [Internet]. Sci. Mag. 2020 [access in 2024 Dec 18]. Available from: https://www.the-scientist.com/opinion-using-pokmon-to-detect-scientific-misinformation-68098
» https://www.the-scientist.com/opinion-using-pokmon-to-detect-scientific-misinformation-68098
14Suelzer EM, Deal J, Hanus KL, Ruggeri B, Sieracki R, Witkowski E. Assessment of Citations of the Retracted Article by Wakefield et al. With Fraudulent Claims of an Association Between Vaccination and Autism. JAMA Netw Open. 2019 Nov; 2 (11): e1915552.
15O’Grady C. Infamous paper that popularized unproven COVID-19 treatment finally retracted [Internet]. Science. 2024. [access in 2024 Dec 18]. Available from: https://www.science.org/content/article/infamous-paper-popularized-unproven-covid-19-treatment-finally-retracted
» https://www.science.org/content/article/infamous-paper-popularized-unproven-covid-19-treatment-finally-retracted
16Retraction Watch. eLife latest in string of major journals put on hold from Web of Science. [Internet]. Retraction Watch. 2024. [access in 2024 Dec 18]. Available from: https://retractionwatch.com/2024/10/24/elife-latest-in-string-of-major-journals-put-on-hold-from-web-of-science/
» https://retractionwatch.com/2024/10/24/elife-latest-in-string-of-major-journals-put-on-hold-from-web-of-science/
17Wallach JD, Boyack KW, Ioannidis JPA. Reproducible research practices, transparency, and open access data in the biomedical literature, 2015-2017. PLOS Biol. 2018; 16 (11): e2006930.
18Teixeira da Silva JA. The Importance of the Anonymous Voice in Postpublication Peer Review [Letter]. J Assoc Inf Sci Technol. 2016; 67 (1): 243.
19Curry S. The intersections between DORA, open scholarship, and equity [Internet]. DORA. 2022. [access in 2024 Dec 18]. Available from: https://sfdora.org/2020/08/18/the-intersections-between-dora-open-scholarship-and-equity/
» https://sfdora.org/2020/08/18/the-intersections-between-dora-open-scholarship-and-equity/
À Convite do Editor Chefe:
Lygia Vanderlei
Datas de Publicação
Publicação nesta coleção
09 Maio 2025 Data do Fascículo
2025
Histórico
Recebido
24 Jan 2025 Recebido
20 Fev 2025 Aceito
21 Fev 2025
Cesar Baima é jornalista e editor-assistente da Revista Questão de Ciência
[Minha observação: de modo estranho, o número de retratações em 2024 não apareceu quando pesquisei. Segue resposta da IA:
O número exato de artigos científicos retratados globalmente em 2024 ainda não foi totalmente consolidado, pois a contagem final geralmente é divulgada no início do ano seguinte. No entanto, relatórios parciais e análises indicam que o ano de 2024 registrou um número elevado de retratações, possivelmente ultrapassando o recorde do ano anterior.
Alguns dados e tendências observados em 2024:
Recorde Contínuo: Espera-se que 2024 tenha sido mais um ano com um número muito alto de retratações, seguindo a tendência de alta observada em 2023, quando mais de 10.000 artigos foram retirados (o número final foi próximo de 13.000).
Editoras Individuais: A editora Springer Nature, por exemplo, relatou ter retratado 2.923 artigos publicados em 2024 em seu portfólio de mais de 3.000 periódicos. A editora Wiley também teve um grande volume de retratações massivas em periódicos específicos.
Causas e Tendências: Houve um aumento notável em retratações devido a novas formas de má conduta, como "paper mills" (fábricas de artigos), revisões por pares falsas e conteúdo gerado aleatoriamente (incluindo o uso indevido de IA), que superaram razões mais tradicionais como plágio e duplicação.
Base de Dados: O site e banco de dados Retraction Watch é a principal fonte de monitoramento desses casos e continua a adicionar milhares de entradas anualmente.
Especialistas em integridade científica indicam que o aumento nas retratações reflete, em parte, uma melhor capacidade de detecção de fraudes e má conduta, e não necessariamente um aumento proporcional na fraude em si, embora ambos os fatores estejam presentes.]
Misael diz que há 500 milhões de anos, poderia ter havido água suficiente, quando a Terra ficou completamente congelada. No entanto, toda a vida teria sido extinta, e nunca mais haveria vida na Terra. A água salgada mataria tudo.
[Observação de Célio João Pires: 1:02:04 até 1: - Eles chamam isso de Terra Cubo de Gelo. Para formar muito gelo, precisa-se de muita evaporação, precipitação de neve. Formaria uma pequena camada de gelo no Planeta, mesmo sem o próprio Sol atuando. A Terra Bola de Neve é um evento pós-Dilúvio - Glaciação.
Das 26 teorias sobre a Glaciação que Célio contou, nenhuma explica por que se formaram camadas de gelo de quilômetros em cima dos continentes se não havia como congelar isso.
Precisaria de um conjunto de fatores:
1 - Oceano muito quente, que evaporasse um volume cataclísmico de água;
2 - Atmosfera extremamente fria, de tal forma que a água caísse em forma de neve e se acumulasse por anos ou séculos, formando gelo compacto (blocos de gelo, e não neve);
O evento que poderia ter causado isso foi o vento que Deus mandou passar depois do Dilúvio, gerando muita evaporação. O Dilúvio proporcionaria o ambiente para uma grande glaciação (que poderia ser seguida de outras menores):
1 - Oceano muito quente, pelo derrame de lava, basalto abaixo d'água, aqueceria os oceanos, levaria à extinção (extinções: água aquecendo, acaba o oxigênio, lava matando, vulcões em ação e meteoros caindo).
O "Ciclo de Milankovitch: causa muito pequena para consequência muito grande.]
Misael - Outro ponto: Como surgem as espécies endêmicas (como o Canguru que está na Austrália).
[Observação do Célio: Fósseis se formam em condições muito especiais. Cangurus não deixariam fósseis. Há mais de um bilhão de fósseis catalogados no mundo - possivelmente resulta do Dilúvio. Fósseis: enterrados muito rapidamente, numa profundidade considerável - lama, o peso das camadas superiores precisa expulsar a água, substituição das partes orgânicas. Fósseis sintéticos: fossilização rápida - criaram fósseis em 24 horas. - Universidade de Bristol.]
Juninho Biólogo ressalta que seriam necessárias 6.744 espécies básicas.
[Célio fala que este número se refere a um estudo sobre os tipos básicos, no nível taxonômico de famílias.]
Misael pergunta como os animais sairiam do Ararate até a Austrália sem deixar fóssil algum.
Juninho Biólogo ressalta que os animais migrariam de forma natural.
Misael repete a ideia de que haveria um rastro de fósseis, caso isso ocorresse, e Juninho Biólogo contesta dizendo que isso não ocorreria, propriamente.
Misael pergunta como o canguru chegaria até a Austrália, e Juninho Biólogo contesta dizendo que seria o equivalente ao Lêmure chegar até a Ilha de Madagascar. Misael diz que lá teria sido por causa da Teoria da Evolução, em que os Lêmures existiram lá esse tempo todo e se moldaram ao ambiente.
[Mais uma observação, que parece ser do próprio canal, e parece contrária à afirmação de Misael:
Lêmures são primatas endêmicos de Madagascar e sua história evolutiva está ligada ao isolamento geográfico da ilha, separada da África há cerca de 160 milhões de anos. A hipótese mais aceita é que os ancestrais dos lêmures chegaram a Madagascar vindos da África há cerca de 50 a 60 milhões de anos, provavelmente por dispersão marítima em jangadas naturais de vegetação. A ausência de outros primatas permitiu uma radiação evolutiva, originando dezenas de espécies.]
Juninho Biólogo ressalta que os animais chegariam lá, sim, e ressalta que Adauto explica muito bem isso no livro. Misael afirma que os criacionistas fazem pseudociência, e reconhece que o Design Inteligente tenta fazer científico.
Misael diz que tem certeza que não haveria água suficiente, [minha observação: mas afirmou anteriormente que, há 500 milhões de anos, isso poderia ter ocorrido com gelo]. Afirma que com oito quilômetros de água cobrindo a Terra, a pressão levaria a uma temperatura de aproximadamente 1.000 graus. Juninho fala em 536 graus, aproximadamente, pelo vapor d'água.
Misael diz que com 250 graus a Arca queimaria. Misael afirma, com certo deboche, que Deus poderia ter mantido a Arca, mas que cientificamente haveria combustão espontânea.
Misael fala em 14 bilhões de metros cúbicos de água para cobrir todo o planeta [com as configurações atuais] e coloca o relato bíblico como mitologia, chamando de mitos também a Suméria, Babilônica e ressalta que o relato bíblico teria sido o último a ser escrito. Ele diz que a água teria que desaparecer de alguma forma.
[Outra observação do canal:
A temperatura depende de fatores como composição do ar (CO2, vapor d'água etc), radiação solar, nuvens/albedo e circulação oceânica.
Mais pressão atmosférica (causada por uma elevação dos oceanos) poderia aumentar o efeito estufa por pressure broadening (as bandas de absorção ficam mais "largas") e um mundo coberto por água tenderia a ter umidade alta, reforçando o aquecimento por vapor d'água e elevando a temperatura.]
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