Material para o vídeo Algumas reflexões
sobre o sofrimento e o mal
ACF |
NVI |
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E ordenou o
Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás
livremente, |
E o Senhor
Deus ordenou ao homem: "Coma livremente de qualquer árvore do jardim,
mas não coma da árvore
do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente
você morrerá". |
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E viu a mulher
que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore
desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a
seu marido, e ele comeu com ela. |
Quando a
mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos
e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu
fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também. |
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E conheceu
Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz a Caim, e disse: Alcancei
do SENHOR um homem. |
Adão teve
relações com Eva, sua mulher, e ela engravidou e deu à luz Caim. Disse ela:
"Com o auxílio do Senhor tive um filho homem". |
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E viu o Senhor
que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação
dos pensamentos de seu coração era só má continuamente. E viu Deus a
terra, e eis que estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido o
seu caminho sobre a terra. (De Adão a Noé,
aproximadamente 1056 anos)
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O Senhor viu
que a perversidade do homem tinha aumentado na terra e que toda a inclinação
dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal. E viu Deus a
terra, e eis que estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido o
seu caminho sobre a terra. |
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Certamente
requererei o vosso sangue, o sangue das vossas vidas; da mão de todo o animal
o requererei; como também da mão do homem, e da mão do irmão de cada um
requererei a vida do homem. |
A todo que
derramar sangue, tanto homem como animal, pedirei contas; a cada um pedirei
contas da vida do seu próximo. |
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Filho meu, se
os pecadores procuram te atrair com agrados, não aceites. |
objetos
valiosos e encheremos as nossas casas com o que roubarmos; |
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Imaginemos um cenário: Das instruções de Deus em Sua Palavra, utilizaremos os 10 mandamentos
e apenas 10 pessoas (5 casais) vivendo no planeta. Casal 1: Uma idólatra (idolatra o marido) e um assassino; Casal 2: Um adorador de imagens de deuses que exigem repúdio à
constituição de família e uma adúltera; Casal 3: Uma blasfema e um ladrão; Casal 4: Um transgressor do Sábado e uma mentirosa; Casal 5: Uma mulher que desonra pais e mães e um cobiçador. |
A mentirosa diz ao marido que prefere ficar em casa enquanto ele
trabalha aos Sábados, mas sai e é morta pelo assassino, que convence sua
mulher idólatra a agir com ele, transformando-a também em assassina. O ladrão percebe a casa vazia e leva tudo o que está ali, falindo o
transgressor do Sábado. Este, revoltado, passa a se unir à blasfema para
blasfemar contra Deus, mas descobre que o marido dela furtou sua casa, resolve mata-lo e executa o plano até o
final. A mulher do ladrão, que blasfemava com o transgressor do Sábado, passa
a blasfemar ainda mais, e desejar vingança contra o assassino. Em meio a toda essa confusão, o cobiçador resolve planejar como irá
conseguir os bens da blasfema e do transgressor, que agora lutam entre si.
Sua mulher se une ao adorador de imagem que repudia a família para mostrar
que o problema de tudo é o modelo de família tradicional, e que o melhor são
os relacionamentos fluidos. Ambos recebem o apoio da adúltera. Os casais 2 e 5 se unem para tentar manipular os sobreviventes dos
casais 3 e 4. No entanto, o cobiçador percebe que terá mais êxito se, além
destes, também enganar o casal 2. Os sobreviventes dos casais 3 e 4 descobrem que os casais 2 e 5
querem prejudica-los, e contratam o assassino para destruí-los. Pagam pelo
serviço. Enquanto isso, a blasfema consegue ceifar a vida do transgressor do
Sábado, mas é gravemente ferida e fica tetraplégica. O assassino mata o casal 2, mas é morto pelo casal 5 (eles também
ficam gravemente feridos). No fim das contas, não foi justo que a mentirosa fosse morta, nem que
o transgressor do Sábado sofresse falência, nem que o ladrão morresse...mas,
ao final, tudo o que ocorreu foi resultado das próprias ações, ou das ações
de terceiros. Nossas ações e/ou omissões permitem o aumento ou a diminuição das
injustiças (pais que abusam de filhos, filhos que abusam de pais, assassinos
que ficam impunes, ladrões de um pão com mortadela que acabam mortos durante
o furto, etc). |
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Também vi esta
sabedoria debaixo do sol, que para mim foi grande: |
Também vi
debaixo do sol este exemplo de sabedoria que muito me impressionou. |
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Porquanto não
se executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos
homens está inteiramente disposto para fazer o mal. |
Quando os crimes não são castigados logo, o coração
do homem se enche de planos para fazer o mal. |
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Mas afinal, como
funciona o Paradoxo de Epicuro? O paradoxo de Epicuro se enquadra na retórica
e na lógica como um Trilema, isto é, um problema no qual se possui 3
afirmativas, porém a existência de 2 delas necessariamente exclui a terceira.
As afirmativas em pauta no Trilema de Epicuro são: 1. Deus é
Onibenevolente (absolutamente e ilimitadamente bondoso). 2. Deus é
Onisciente (tem absoluta ciência de tudo, tanto em objeto quanto em
fenômeno). 3. Deus é
Onipotente (possui poder absoluto, irrestrito e ilimitado). Agora, para
encontrar o Trilema basta tentar agrupar em um caso de realidade imaginada,
que considere a existência do Mal como verdadeira, as 3 afirmativas como
verdadeiras, e verificar que não é possível. Observe: 1.
Se Deus é
onisciente e onipotente, então possui conhecimento da existência do Mal (pela
onisciência) e poder para acabar com ela (pela onipotência), logo, se
não o faz não pode ser onibenevolente, pois não estaria sendo absoluta e
ilimitadamente bondoso ao permitir o Mal. Conclui-se: existindo o Mal, sendo Deus onisciente e
onipotente, não pode ser onibenevolente. 2.
Se Deus é
onipotente e onibenevolente, então possui poder para acabar com o Mal (pela
onipotência) e desejo de assim fazer (pela onibenevolência), logo, se não o
faz é porque não tem conhecimento do Mal, isto é, não possui conhecimento
absoluto, assim, não é onisciente. Conclui-se: existindo o Mal, sendo Deus onipotente e
onibenevolente, não pode ser onisciente. 3.
Se Deus é
onisciente e onibenevolente, então possui ciência da existência do Mal (pela
onisciência) e vontade de acabar com o Mal (pela onibenevolência), logo, se
não o faz é porque não tem poder para tal, isto é, não possui poder
ilimitado, assim, não é onipotente. Conclui-se: existindo o Mal, sendo Deus onisciente e
onibenevolente, não pode ser onipotente. Confissões, VII, 12. Santo Agostinho.
Tradução de Danilo Marcondes. Textos Básicos de Filosofia. Editora Zahar.
2007. Por Rafael Ferreira Martins |
Desta maneira o
Trilema de Epicuro teria provado que, existindo o Mal, Deus não poderia
possuir suas três mais marcantes habilidades (Onipotência, Onisciência e
Onibenevolência), somente duas delas, o que configura um paradoxo,
enfaticamente para os monoteístas abraâmicos que pregam, como axioma e
epílogo de todo seu sistema religioso, a bondade absoluta, o conhecimento
total e o poder ilimitado de Deus. Note, porém, que
todo o Paradoxo do Trilema de Epícuro necessita de uma premissa aceita como
válida para se sustentar: a existência do Mal.
Sem a aceitação da existência do Mal não é possível erguer as inferências
previamente descritas pois as questões problemáticas não se põe, observe: Se
Deus é onisciente e onipotente e o Mal não existe, ele também pode ser
onibenevolente, haja vista que possui ciência da inexistência do Mal, logo,
não necessita atuar, por meio de sua onipotência contra ele; assim, a
problematização da vigência das 3 características citadas como predicados de
Deus não se colocaria. Todavia, o comum seria assumir a existência
do Mal, sim, dada a experiência com o mundo sensível-material-humano, onde
crueldades aparentam ocorrer. Logo, o trilema seria válido, quando validada a
existência do Mal. Agora é necessário refletir o seguinte: o que é existir? Para
resumir, evitando fugirmos ao tema, é necessário compreender que nem toda
existência é ontologicamente positiva, isto é, nem toda existência é
verdadeira, há também pseudoexistências, ou seja, fenômenos, que não possuem
algo em si, mas são nomeados ou conceituados como se fossem algo por si só,
seja intencionalmente, para facilitar a comunicação, seja por descuido, não
percebendo a falsidade daquilo que se conceitua. Tais pseudoexistências são a realidade dos
seres ontologicamente negativos, isto é, não existem positivamente,
projetando-se, mas negativamente, na ausência. O exemplo mais simples de uma
existência ontologicamente negativa (que estamos chamando de
pseudoexistência) seria um buraco. Um buraco não existe como ser que se projeta,
positivo, ele é, na verdade, a ausência parcial e delimitada de um ser que,
por sua vez sim, se projeta. Logo, uma existência ontologicamente negativa é
nada mais que a parcial e delimitada privação de projeção, ausência, de/sobre
uma existência ontologicamente positiva. Agora
raciocine, se pressupormos a crença cristã de que Deus tudo criou e toda sua
criação é muito boa (Gênesis, 1, 31) e somarmos a isso o fato de que não é
possível extrair um Mal substancial (ontologicamente positivo/ existência verdadeira)
de um universo unicamente Bom, sobram 2 alternativas de conclusão: ou ‘o Mal
não existe de maneira alguma, realmente não existe tal manifestação no
universo mesmo que de maneiras secundárias, sendo pura e unicamente uma ideia
fictícia’, ou ‘o Mal é a existência ontologicamente negativa do Bem, isto é,
o Mal é a privação, a ausência, do Bem, o não-Bem’. Como o Mal não pode existir ontologicamente
positivo na crença cristã, como vimos no parágrafo anterior, porém, seria
absurdo discordar que maldades são praticadas no mundo dos humanos, como
vimos mais atrás no texto, só nos resta uma conclusão: o Mal é a privação
do Bem, ocorrendo somente nas práticas dos seres, pois não pode ser algo, só
ocorrência. Desta maneira, o Mal é a ação corrompida daquele ser que, dotado
de livre arbítrio, opta pelo não-Bem, ou seja, pelo Mal. A argumentação desenvolvida nos últimos 2
parágrafos é, de fato, uma demonstração simplificada do argumento de Santo
Agostinho sobre o Problema do Mal, apresentado em sua Magnum opus
“Confissões”, no decorrer do capítulo 12 do livro VII. Agora, você poderia
questionar o porquê de um Deus onisciente, onipotente e onibenevolente dotar
criaturas de livre arbítrio, de maneira que estas possam optar pelo não-Bem.
Se você realizou tal reflexão, meus parabéns, você já alcançou a próxima
problemática filosófica agostiniana (que segue logicamente esta trabalhada
neste artigo educativo) que é o Problema do Livre Arbítrio, porém, este já é
um outro assunto para um outro artigo... Enfim, compreendemos o Trilema Paradoxal de
Epicuro e a Resolução de Santo Agostinho para o mesmo problema, enfatizando
que os dois não dialogam em desenvolvimento entre si, visto que seu embate
está na premissa da existência do Mal. Agostinho nega a existência
substancial do Mal, o que invalidaria o Trilema de Epicuro. Epicuro, por sua
vez, afirma a existência real do Mal, o que invalidaria o argumento
resolutivo de Santo Agostinho para o problema do Mal. Conclui-se: a lógica de
Agostinho é tão válida quanto a de Epicuro (vice-versa), a questão filosófica
aqui em debate está no juízo da premissa “existência do Mal” e a
justificativa de escolha pela sua validação ou invalidação como verdade. Bibliografia: The Problem of Evil. Michael Tooley. 2010.
The Stanford Encyclopedia of Philosophy. Edward N. Zalta |
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ALVIN PLANTINGA: SOBRE O PROBLEMA LÓGICO DO MAL Emerson Martins
Soares64 Universidade Federal de Pelotas “Pois, dizem tais filósofos, um ser onipotente seria capaz de
prevenir o mal, um ser onisciente conheceria toda forma de mal, e um ser
sumamente bom preveniria todo mal que conhecesse. A conclusão óbvia disso
é que, se há um ser com esses atributos, então não deve haver mal no mundo.
Mas há mal no mundo, portanto, não existe tal ser como Deus” “Um mundo
contendo criaturas que são, de vez em quando significantemente livres (e,
livremente, realizam, de modo quantitativo, mais ações boas do que más) é
mais valoroso, se todo o resto for igual, que um mundo sem nenhuma criatura
de fato livre. Não obstante, Deus poderia criar criaturas livres, mas
Ele não pode causar que elas façam somente o que é correto. Se Ele assim
fizesse, então elas não seriam, de fato, significantemente livres; elas não
fariam o que é correto livremente. Portanto, para criar criaturas capazes
de criar bem moral, Ele deve criar criaturas capazes de mal moral e não pode
deixar essas criaturas livres para realizar o mal, e ao mesmo tempo,
impedi-las de fazer tal coisa. De fato, Deus cria seres significantemente
livres, mas alguns deles erram no exercício da sua liberdade: esta é a origem
do mal moral. O fato de
essas criaturas livres, algumas vezes, errarem não depõe nem contra a
onipotência de Deus, nem contra sua bondade; Ele, pois, somente
poderia impedir a ocorrência do mal moral, eliminando a possibilidade do bem
moral. (PLANTINGA, 1974, p. 166-167)” |
“Dada apenas a possibilidade de que existem criaturas-agentes livres,
podemos dizer que existem vários mundos possíveis que incluem a existência de
Deus e que também incluem um estado de coisas contingente S tal que não há um
momento de tempo no qual Deus pode atualizar S. Portanto (...), existem
muitos mundos possíveis que Deus não poderia ter atualizado, embora eles
incluam sua existência: todos aqueles mundos contendo um estado de coisas com
um agente livremente realizando ou livremente se abstendo de realizar uma
ação. Visto que um mundo contendo bem moral é um mundo com tais
características, Deus não poderia ter atualizado nenhum mundo contendo bem
moral; a fortiori, Ele não poderia ter atualizado um mundo contendo bem
moral, mas sem nenhum mal moral. (PLANTINGA, 1974, p. 171).” “Cabe ainda
dizer que a defesa do livre-arbítrio que Plantinga faz como descrita neste
trabalho e de forma mais completa e acurada em suas obras The Nature of
Necessity e God, Freedom and Evil, tem sido tradicionalmente, desde sua data
de publicação em meados dos 70, considerada por muitos filósofos, dentre eles
William Rowe (o famoso proponente do argumento evidencialista do mal), como
bem sucedida, o que explica o abandono do desenvolvimento e análise de
argumentos lógicos do mal e a concentração em argumentos evidencialistas, nas
bases do trabalho de Rowe, que são aqueles que consideram o mal natural” |
https://filosofianaescola.com/metafisica/problema-do-livre-arbitrio/
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