Lucas 23:43 e imortalidade da alma - Materiais para análise

https://revistas.pucsp.br/index.php/culturateo/article/view/24190/17384

https://ia903002.us.archive.org/7/items/AnliseDeSemeron.RodrigoSilva./An%C3%A1lise%20de%20Semeron.%20Rodrigo%20Silva..pdf

Rodrigo P Silva - Análise de Sêmeron em Lucas 23:43


http://apologia7biblica.blogspot.com/2019/05/minha-tese-com-evidencias-em-lucas-2343.html

Artigo de Itard Víctor sobre Lucas 23:43


http://desvendandoalenda.blogspot.com/2013/07/estudo-completo-sobre-lucas-2343-hoje.html

Artigo de Lucas Banzoli sobre Lucas 23:43


http://www.lucasbanzoli.com/2017/04/0.html 

- A Lenda da imortalidade da Alma

Este é um estudo completo e aprofundado sobre o tema da imortalidade da alma e do destino humano após a morte, extraído de meu livro: "A Lenda da Imortalidade da Alma". O seguinte capítulo trata sobre a famosa declaração de Jesus ao ladrão ao seu lado da cruz, registrada em Lucas 23:43. Foi inicialmente escrito por mim em 2010 e revisado em Julho de 2013, após anos de estudo e trabalho sobre o tema em questão. Boa leitura a todos.


ESTUDO COMPLETO SOBRE LUCAS 23:43 - "HOJE ESTARÁS COMIGO NO PARAÍSO"?

Uma das mais falsas interpretações verdadeiros ensinos de Cristo por parte dos defensores da doutrina platônica da imortalidade da alma é uma das últimas mensagens que Cristo trouxe enquanto ainda estava em vida. Segundo os dualistas, o que Jesus disse ao ladrão ao seu lado na cruz foi que estaria naquele mesmo dia com ele no Paraíso: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso” (cf. Lc.23:43).  

O que poucas pessoas sabem, contudo, é que temos muitas evidências de que o ladrão, realmente, não esteve no Paraíso naquele dia. Mas como não? A Bíblia não diz claramente isso? Na verdade, não. O fato é que o original grego não tinha vírgulas, e o texto original assim reza: “Kai eipen autw amhn soi legw shmeron met emou esh en tw paradeisw” (cf. Lc.23,43).

Em primeiro lugar, é bom mencionarmos logo que a adição presente em muitas Bíblias, da palavra “QUE”, não existe nos originais. O que Jesus realmente disse ao ladrão da cruz foi: “Em verdade te digo hoje estarás comigo no Paraíso”. Como o texto original não possui vírgulas e o texto deixa em aberto a questão, poderíamos colocá-la em dois lugares diferentes, entretanto é algo que mudaria completamente o significado da frase.

Esta poderia ser: “Em verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso” (dando a entender que estaria naquele dia no Paraíso com o ladrão da cruz) ou então: “Em verdade te digo hoje, estarás comigo no Paraíso” (ele garantia “hoje” que o ladrão estaria no Paraíso).

É algo parecido com uma rebelião em determinada cidade, em que o governante comunicou a revolta ao seu superior, dizendo: “Devo fazer fogo ou poupar a cidade?” A resposta do superior foi: “Fogo não, poupe a cidade”. Infelizmente, o funcionário do correio trocou a vírgula e escreveu o seguinte na resposta do telegrama: “Fogo, não poupe a cidade”.

E assim cidade foi totalmente destruída.

Mas como podemos saber que Jesus realmente não disse: “Em verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso”? Temos muitos motivos para desacreditar que o ladrão esteve naquele mesmo dia com Cristo no Paraíso. Algumas das principais razões são:


APÓS TRÊS DIAS, JESUS AINDA NÃO HAVIA SUBIDO AO PAI

Após três dias, Jesus ainda não havia subido ao Pai – Uma verdade que nos é reveladora para concluirmos que Cristo não esteve com o ladrão da cruz naquele mesmo dia no Paraíso é o fato de que, após três dias morto, Jesus ainda não havia subido ao Pai, e declarou a Maria Madalena: “Não me detenhas; porque ainda não subi para meu Pai” (cf. Jo.20:17). Ora, se Jesus ainda não havia subido ao Pai após três dias, então não poderia ter estado naquele mesmo dia com o ladrão da cruz no Paraíso!

Alguns imortalistas rejeitam essa evidência pela alegação de que Jesus esteve no Paraíso "em espírito" nesses dias, mas não corporalmente. Se isso fosse verdade, porém, Cristo teria mentido a Maria Madalena, já que o texto em questão não faz menção ao corpo de Nosso Senhor, mas sim ao ser racional dele. O texto não diz que ele não subiu “apenas corporalmente”, o texto fala da pessoa de Cristo, do ser racional, que o próprio Cristo não passou pelo Paraíso nos dias em que esteve morto. Admitindo-se que o ser racional seja a "alma" ou o "espírito", como alegam os imortalistas, seria incoerente crer que Jesus estivesse apenas se referindo ao corpo. Essa interpretação também fere as regras da lógica e do bom senso, como observa o prof. Azenilto Brito:

“Para os imortalistas, quando Jesus declarou que não subiu para o Pai em João 20:17 Ele quis dizer — minha alma é que subiu; agora é que vou completo, corpo e alma... Conclusão absurda, para dizer o mínimo”

É evidente que, caso Cristo tivesse subido ao Paraíso, então ele relataria isso a Maria Madalena ou, no mínimo, omitiria tal declaração tão categórica de que ele não esteve no Paraíso, optando por dizer algo como “já subi e subirei de novo”. Infelizmente para os imortalistas, a única coisa que Cristo disse é que ainda não havia subido ao Pai, algo que não seria verdade caso o “verdadeiro eu” de Cristo já tivesse subido.

Alguns imortalistas, em uma outra tentativa em demonstrar alguma objeção ao argumento baseado em João 20:17, dizem que o fato de Jesus ter subido ao Pai não implica que ele tenha ido ao Paraíso, como se o Paraíso ficasse em um lugar e Deus em outro! Esse “Paraíso sem Deus” que eles creem certamente não é o Paraíso bíblico, mas um que eles inventaram no desespero em oferecerem alguma refutação decente ao texto de João 20:17, que por si mesmo é óbvio e refuta as teses imortalistas. Eles creem que Paulo foi “arrebatado ao Paraíso” (cf. 2Co.12:4) e não viu nem Deus por lá (seria o mesmo que eu o convidasse a estar na minha casa e eu mesmo não estivesse lá), e inacreditavelmente interpretam que a “árvore da vida, que está no Paraíso de Deus” (cf. Ap.2:7), está em um lugar onde nem Deus está!

Ou seja: que o Paraíso é chamado de “Paraíso de Deus” mas não é onde Deus está! É a mesma coisa de a minha casa se chamar de “casa do Lucas” mas o Lucas não mora lá. Eles pensam que Deus estava de “férias” naqueles três dias, longe do Paraíso dele mesmo! Além disso, notemos que Jesus entregou o seu espírito ao Pai ao morrer (cf. Lc.23:46), e para os imortalistas esse espírito é a alma imortal que deixa o corpo com consciência e personalidade após a morte. Sendo assim, é imprescindível que Jesus estivesse com o Pai naquele mesmo dia, ou senão eles teriam que reformular toda a teologia deles acerca daquilo que é o “espírito”.

Portanto, a declaração categórica de que Jesus não subiu ao Pai (cf. Jo.20:17) entra em choque com a crença deles de que o espírito é um ser consciente e racional, visto que por essa lógica Cristo deveria ter subido ao Pai imediatamente na morte já que havia entregado o seu espírito a Ele. Ou esse espírito não é um ser consciente e racional como os imortalistas creem, ou Jesus fez uma encenação ao entregar o seu espírito ao Pai na morte para depois dizer que ainda não havia subido ao Pai.


JESUS DESCEU, NÃO SUBIU

Jesus desceu, não subiu – Outro fator de clareza fundamental para concluirmos que Cristo realmente não subiu ao Pai no dia em que morreu é o fato de que, nos três dias em que ele esteve morto, ele esteve no Sheol, e não no Paraíso. Tal fato é relatado no livro de Atos, quando Pedro falava a respeito da ressurreição de Jesus: “Porque não deixarás a minha alma no Sheol, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção” (cf. At.2:27). Pedro na realidade usou a passagem do livro dos Salmos em que Davi citava tal passagem, que diz: Pois não abandonarás a minha alma no Sheol, nem permitirás que o teu santo veja a corrupção” (cf. Sl.16:10). De acordo com o léxico da Concordância de Strong, a palavra traduzida por "deixar" vem do grego "egkataleipo", que tem o sentido de abandonar:

1459 εγκαταλειπω egkataleipo
de 1722 e 2641; v
1) abandonar, desertar.
1a) deixar em grandes dificuldades, deixar abandonado.
1b) totalmente abandonado, completamente desamparado.
2) deixar para trás, desistir de sobreviver, falecer.

Como vemos, a alma de Jesus foi retirada do Sheol ao ser ressuscitado, e não do Paraíso. Ele não viu a corrupção pois não foi deixado abandonado no Sheol, onde esteve enquanto morto, mas foi retirado de lá apenas três dias depois. Aqui vemos mais uma vez que Sheol significa sepultura, a "cova da corrupção" (cf. Is.38:17), e o detalhe é que Pedro e o salmista declaram que foi o local para onde a alma de Cristo  e não apenas o corpo  esteve na morte.

No grego de Atos 2:27:

"oti ouk egkataleipseis tên psuchên mou eis a=adên tsb=adou oude dôseis ton osion sou idein diaphthoran" - Atos 2:27

No hebraico do Salmo 16:10:

"iy lo'-tha`azobh naphshiy lish'ol lo'-thittênchasiydhkha lir'oth shâchath" - Salmos 16:10

O próprio Cristo afirmou que esse Sheol (transliterado ao grego como "Hades") fica nas regiões inferiores da terra, em oposição ao Paraíso: E tu, Cafarnaum, será elevada até ao céu? Não, você descerá até o Hades! Se os milagres que em você foram realizados tivessem sido realizados em Sodoma, ela teria permanecido até hoje” (cf. Mt.11:23; ver também: Ef.4:9; Mt.12:40).

Portanto, vemos que a alma de Cristo passou os três dias em que esteve morto no Sheol, que não é o Paraíso, muito pelo contrário, está em um local em oposição a ele (cf. Mt.11:23). O Filho do homem estaria “três dias e três noites no coração da terra” (cf. Mt.12:40), não apenas de forma corporal, mas como alma, conforme diz a profecia do salmista (cf. Sl.16:10) e a confirmação do apóstolo Pedro (cf. At.2:27), e não no Paraíso. Tendo isso em mente, até aqui podemos perceber que:

• O ser racional de Cristo não passou pelo Paraíso nos três dias em que esteve morto (cf. João 20:17).

• A alma de Cristo não esteve no Paraíso nos dias em que este esteve morto, mas no Sheol (cf. At.2:27; Sl.16:10), que fica nas regiões inferiores da terra (cf. Ef.4:9; Mt.12:40), em oposição ao Paraíso (cf. Mt.11:23), e não no próprio Paraíso.

Tudo isso já nos mostra que Jesus não pode ter dito que o ladrão estaria com Ele naquele mesmo dia no Paraíso, se nem o próprio Cristo esteve no Paraíso nos dias de sua morte. A interpretação correta de Lucas 23:43 deve estar de acordo com as regras da hermenêutica, que afirma que a Bíblia explica a própria Bíblia. Sendo que é tão nítido biblicamente que Cristo não esteve no Paraíso quando morreu, a interpretação correta de Lucas 23:43 é contrária à oferecida pelos imortalistas.

Numa tentativa desesperada em negarem o óbvio e tentarem conciliar suas teses com aquilo que a Bíblia declara taxativamente sobre para onde Cristo foi após a morte, alguns imortalistas afirmam que Jesus esteve no Sheol mas ao mesmo tempo esteve com o ladrão da cruz no Paraíso, fazendo uso de sua onipresença. Tais malabarismos exegéticos só são feitos para negar a clareza da linguagem bíblica sobre a mortalidade da alma, pois em outras circunstâncias nenhum deles diz que Jesus, enquanto esteve entre nós, vivia em dois lugares ao mesmo tempo.

Ninguém afirma que Jesus viva em Nazaré mas simultaneamente estava no Egito, na América, no Paraíso e no Hades. Enquanto Jesus esteve limitado a um corpo, ele jamais fez uso do atributo da onipresença. Ele era um homem, e, assim como nós, se estava em um lugar, não estava em outro. Jesus não nasceu em todos os lugares do mundo por ser onipresente, ele nasceu em Belém. Jesus não cresceu em todos os lugares do mundo por ser onipresente, ele cresceu em Nazaré. Jesus não pregava em todos os lugares do mundo por ser onipresente, ele pregava no Templo. Jesus não morreu em todos os lugares do mundo por ser onipresente, ele morreu no Gólgota.

Da mesma forma, após a morte Jesus não estava no Sheol e ao mesmo tempo no Paraíso por ser onipresente, a Bíblia diz que ele passou os três dias e três noites no Sheol. Jesus esvaziou-se a si mesmo ao se fazer humano (cf. Fp.2:6,7), ele só voltou a fazer uso de seus atributos divinos na glorificação. Nasceu, cresceu, viveu e morreu como homem. E, como homem, não esteve em dois lugares ao mesmo tempo, seja na vida ou na morte. Isso por si só já é mais que o suficiente para liquidar com a antibíblica tese de que o ladrão esteve com Cristo naquele mesmo dia no Paraíso, mas prosseguiremos com mais provas em diante para enriquecermos ainda mais as evidências deste estudo sobre Lucas 23:43.


O CONTEXTO

O contexto – O que foi dito pelo ladrão da cruz no verso anterior a esta resposta de Cristo (no verso 42), no original grego foi: μνήσθητί = Lembra-te \ μου = de mim \ ταν = quando \ λθς = vier \ ες = em \ τν = o \ βασιλείαν = Reino \ σου = de ti. Ou seja, “Lembra-te de mim quando vieres no teu Reino”. Tal é o texto original no grego e confirmado pelas melhores versões a nossa disposição, tais como a versão Trinitariana, a Versão Italiana de G. Deodatti, a Francesa L. Segond, a Inglesa de King James, Almeida Revisada e Atualizada, entre outras.

Cristo buscava assegurar ao ladrão da cruz que não precisava pensar em termos de tempo tão remoto para ser lembrado por Ele. “Hoje lhe garanto que estarás comigo no Paraíso”, é o sentido lógico diante de tal contexto. O ladrão pediu a Jesus para lembrar-se dele no futuro quando Ele viesse no Seu Reino visível (v.42), mas Jesus respondeu o lembrando imediatamente - “hoje” - assegurando que estaria com Ele no Paraíso.

“Em verdade te digo hoje”, isto é, eu lembro agora mesmo, não precisa pensar em um tempo tão distante, hoje mesmo eu te digo que você estará comigo no Paraíso. Esse é o sentido lógico pelo contexto. Note que o próprio ladrão sabia que não iria ao Céu imediatamente após a morte, já que pediu para Cristo se lembrar dele “quando viesse em seu Reino”, ou seja, na segunda vinda de Cristo.


O LADRÃO NÃO MORRIA NAQUELE MESMO DIA

O ladrão não morria naquele mesmo dia – Um condenado a morte de cruz geralmente demorava dias para morrer na cruz. Lemos em João 19:31-33 um costume antigo realizado pelos judeus: “Os judeus, pois, para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, visto como era a Preparação (pois era grande o dia de sábado), rogaram a Pilatos que lhes quebrassem as pernas, e que fossem tirados. Foram, pois, os soldados e, na verdade, quebraram as pernas do primeiro, e ao outro que com ele fora crucificado; mas vindo a Jesus, e vendo-O já morto, não lhe quebraram as pernas” (cf. Jo.19:31-33).

Qual seria a razão pela qual devia-se quebrar as pernas dos crucificados? Porque o crucificado não morria no mesmo dia. Cristo foi exceção ao caso porque expirou antes (cf. Lc.23:46), ele não morreu como resultado da hemorragia. Os outros, contudo, ainda ficavam vivos agonizando durante dias – não poderiam estar com Cristo naquele mesmo dia em questão. Isso é o que a História e a Bíblia Sagrada nos mostram. Diz o comentário de J. B. Howell:

“O crucificado permanecia pendurado na cruz até que, exausto pela dor, pelo enfraquecimento, pela fome e a sede, sobreviesse a morte. Duravam os padecimentos geralmente três dias, e às vezes, sete” [Comentário a S. Mateus, pág. 500]

Arnaldo B. Christianini segue na mesma linha e afirma:

“Depois do sábado haver passado, sem dúvida esses dois corpos foram outra vez amarrados na cruz, e lá ficaram diversos dias, até morrerem (...)  Se era necessário quebrar as pernas aos dois malfeitores, antes do pôr do sol, é porque não haviam morrido ainda. Na pior das hipóteses viveram ainda, pelo menos, um dia a mais do que o Mestre. Como podia, um deles, estar no mesmo dia junto de Jesus?” [Subtilezas do Erro, pág  222]

Vemos, portanto, que historicamente os ladrões que morriam na cruz não faleciam no mesmo dia da crucificação. E a Bíblia confirma isso? Sim, confirma. Na passagem anteriormente citada, vemos que “os judeus, pois, para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, visto que era véspera do sábado, pediram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados” (cf. Jo.19:31). Por que as pernas dos crucificados foram quebradas? Para matá-los logo? Se alguém quisesse matá-los, bastaria uma lancetada no coração ou no fígado deles (como foi feita com Cristo porque viram que já estava morto).

A finalidade em quebrar as pernas deles não era para matá-los, mas porque havia uma tradição entre os judeus que não permitia que o condenado ficasse dependurado na cruz no dia de sábado. Por isso, lhes quebravam as pernas e era descido do madeiro e assim permanecia até o fim do sábado. Prova ainda mais forte de que tal procedimento não resultava em morte imediata dos crucificados é a grande surpresa de Pilatos (experiente em crucificações) em ver que Jesus já havia morrido:

“E Pilatos se admirou de que {Cristo} já estivesse morto (cf. Marcos 15:44)

Pilatos ficou pasmo em ver que Jesus já estivesse morto. Certamente deveria ter dito algo como: “Já morreu?!”  Por que Pilatos “se admirou”? Por certo, Pilatos, veterano em mandar pessoas para cruz, já familiarizado com as crucificações, admirou-se diante de um fato inusitado: era algo incomum alguém morrer no mesmo dia da crucificação! O léxico de Strong define a palavra aqui traduzida por "admirou-se" como sendo:

2296 θαυμαζω thaumazo
de 2295; TDNT - 3:27,316; v
1) admirar-se, supreender-se, maravilhar-se.
2) estar surpreendido, ser tido em admiração.

Assim vemos que o fato de alguém morrer naquele mesmo dia da crucificação era algo extraordinário, bem fora do normal, um fato que causa espanto, surpresa, admiração. Foi assim com Jesus, mas nada indica que tenha assim sido também com os ladrões ao seu lado na cruz. Ao contrário, a evidência indica que eles permaneceram vivos depois da morte de Cristo, pois este foi o único a ter o lado furado por uma lança por já ter morrido naquele mesmo dia (cf. Jo.19:33-34), os demais permaneceram vivos dependurados do madeiro até o fim do sábado para depois serem outra vez amarrados à cruz. Não era intenção dos romanos matá-los, mas deixá-los sofrendo (cf.Jo.19:32).

Concluímos, pois, que historicamente e biblicamente o ladrão não morria naquele mesmo dia, e isso, unido às razões já apresentadas, nos mostra claramente que o ladrão não poderia estar naquele mesmo dia com Cristo no Paraíso – que, por sinal, também não subiu por lá enquanto esteve morto (cf. Jo.20:17; At.2:27).


EVIDÊNCIAS HISTÓRICAS

Evidências Históricas – Como já foi demonstrado, no original grego (Koiné) em que a Bíblia foi escrita não existia vírgulas, o que dá margens para os tradutores as colocarem de acordo com as suas tradições religiosas. Mas, posteriormente, o grego passou a ter vírgula, e como era costume dos Pais da Igreja citarem constantemente as Escrituras em seus próprios escritos, eles transcreveram o texto de Lucas 23:43 da forma mais coerente que vimos acima: “Em verdade te digo hoje: estarás comigo no Paraíso”. Por exemplo, Hesíquio de Jerusalém, que foi um cristão presbítero e exegeta do quinto século d.C, transcreveu essa passagem de Lucas 23:43 da seguinte maneira: 

“Verdadeiramente eu lhe falo hoje (Hesichius de Jerusalem, em Patrologia Grega, Volume Noventa e Três, 1433)

Teofilacto declarou o mesmo ao escrever Lucas 23:43 do seguinte modo: 

 “Verdadeiramente eu lhe falo hoje (Teofilacto em Patrologia Grega, em Patrologia Grega, Volume Cento e Vinte e Três, 1104)

Como vemos, os próprios Pais da Igreja de épocas posteriores (onde já existia a vírgula) reconheciam que Jesus lhe falava “hoje” que o ladrão estaria com Ele no Paraíso, e não que o ladrão estaria no Paraíso naquele mesmo dia. Vale ressaltar um detalhe importante: a maioria dos Pais da Igreja, especialmente a partir do terceiro século d.C, começaram a adotar a tese da imortalidade da alma, contrariando a visão de dois séculos de Cristianismo (conforme já conferimos neste artigo). Isso significa que estes Pais da Igreja, mesmo sendo imortalistas, reconheciam que a forma gramatical do grego apontava que a vírgula deveria ser colocada depois do “hoje”.  

O mesmo acontece nos dias de hoje: vários imortalistas já abandonaram este “argumento de Lucas 23:43”, uma vez que perceberam que a passagem pode perfeitamente ser entendida e interpretada dentro do prisma mortalista, sem qualquer problema. A interpretação de que Lucas 23:43 é uma “prova” da imortalidade da alma só começou a surgir vários séculos depois, quando começaram a pedir provas bíblicas que fundamentassem essa doutrina, e, sem encontrar quase nenhuma, tiveram que apelar para passagens como essa, que nem mesmo os primeiros imortalistas lançaram mão dela, entendendo que a pontuação realmente era contra, e não a favor da tese deles neste texto. 

Vale também ressaltar que não foram apenas os Pais da Igreja que entenderam que a vírgula em Lucas 23:43 deve ser colocada antes do “hoje”, pois muitos outros manuscritos antigos atestam o mesmo. Os Manuscritos Bc e Sy-C, Antigo Siríaco, que são grandemente respeitados na comunidade acadêmica e apologética e que datam do terceiro século AD, sendo um dos manuscritos do NT mais importantes que temos até hoje, verte o texto de Lucas 23:43 colocando a vírgula depois do “hoje”: 

"Eu digo a você hoje, que Comigo tu deve estar no Jardim de Éden" (Manuscritos Bc e Sy-C - Antigo Siríaco)

Por fim, o próprio Vaticanus 1209, um dos melhores manuscritos gregos do Novo Testamento, que data do século IV d.C e que é uma das fontes pelas quais os estudiosos mais trabalham na identificação do original do NT, traz o seguinte em Lucas 23:43: 

 

Note que no texto grego há um ponto depois da palavra “semeron” (dia), e não antes dela. Este Condex Vaticanus foi considerado por Westcott e Hort como o melhor manuscrito grego do NT, e é também um dos manuscritos mais antigos da Bíblia, sendo inclusive mais antigo do que o Codex Sinaiticus. É interessante também os comentários do erudito Earle Ellis em sua obra “The Gospel of Luke”, no comentário da Bíblia New Century: 

“Alguns manuscritos produzidos razoavelmente cedo colocam a vírgula depois de ‘hoje’ e assim, continuam com a referência a parousia do verso 42” (Publicado por Wm.B.Eerdmans Publishing Co. Grand Rapids Michigan, reprint of 1983)

Isto, sem dúvida, mostra que este erudito sabe a respeito da pontuação no Ms Vaticanus em Lucas 23:43, bem como em outros respeitados manuscritos antigos.


A GRAMÁTICA

A gramática – Ainda que o texto original não possua vírgulas, a forma linguística em que ele é escrito nos ajuda a desvendarmos qual é o seu real sentido na passagem em pauta. No português, quando traduzimos a frase podemos colocá-la em antes ou depois do advérbio “hoje” (como vimos acima), e ambas as traduções aparentemente podem dar sentido real à frase.  Contudo, quando pegamos os manuscritos originais no grego e ponderamos em onde colocar a vírgula, tal não faz sentido se ela for colocada antes do “hoje”, como querem os imortalistas. Por quê? Simplesmente porque isso criaria um dilema de primeira ordem por falta de lógica no próprio texto.

Grande parte dos tradutores simplesmente ignoram a palavra μο = de mim. Sem considerar esta palavra o sentido original do foi dito se perde. Vejamos a tradução do verso palavra por palavra:

κα = \ επεν = disse \ ατ = a ele \ μήν = amém \ σοι = a ti \ λέγω = digo \ σήμερον = hoje \ μετ᾿ = depois μο = de mim \ σ = serás ν = em \ τ = o \ παραδείσ = paraíso.

A palavra μετ᾿ significa “comigo”, como também significa “depois”, se você considerar que μετ᾿ está no sentido de “comigo”. Necessariamente, temos que ignorar a palavra μο = de mim. Comigo de mim, não faz sentido algum. A vírgula não pode ficar antes de “hoje”. A vírgula deve ser colocada após o “hoje” e também após o “depois”. Considerando todas as palavras como elas são literalmente e traduzindo corretamente, o sentido original do foi dito fica muito claro:

“E disse a ele; Amém a ti digo hoje, depois, de mim serás em o paraíso”. Depois de todas as coisas concluídas, o ladrão com certeza absoluta será do nosso Salvador. Jesus entregou ao ladrão da cruz a promessa de que este estaria no Paraíso. ‘Hoje’ é o momento em que esta promessa lhe foi dita. Naquele momento Cristo assegurou a ele tal promessa.

Mas em resposta a que foi feita a promessa?

Verso 42... μνήσθητί = Lembra-te \ μου = de mim \ ταν = quando \ λθς = vier \ ες = em \ τν =\ βασιλείαν = Reino \ σου = de ti.

“Lembra-te de mim quando vier em o reino de ti”. O ladrão tinha dúvida se aquilo poderia ser possível e, por isso, seu pedido a Jesus foi que este se lembrasse dele, não quando morresse, mas quando Ele viesse em seu poder visível. Então, naquele momento, o hoje, Cristo lhe deu esta certeza. Ele lhe garantiu: “depois, de mim serás em o paraíso”.

A preposição μετ indica um tempo – depois; após; além de.  Depois que todas as coisas forem concluídas, quando Cristo vier na Sua Glória, o ladrão estará na glória com o Senhor Jesus. Naquele momento, o ‘hoje’ do verso, o ladrão recebeu a certeza de que, no futuro, estaria com Cristo no Paraíso.

μο ou μου é um pronome na primeira pessoa do singular, que não pode ser ignorado. No grego a pontuação não é absolutamente necessária para a compreensão textual, mas no português se você não organizar as palavras da maneira correta e usando a pontuação, o texto fica sem nenhum sentido, e ainda dá margens para más interpretações.


REFUTANDO OBJEÇÕES

Refutando objeções – A principal objeção sustentada pelos defensores da imortalidade da alma neste texto é que seria inteiramente desnecessário a adição do "hoje", pois se Jesus dizia aquilo naquele momento (o "hoje") não seria preciso adicionar que estava dizendo aquilo hoje. Em resposta a essa objeção, devemos ressaltar, em primeiro lugar, que é muito comum na Bíblia a utilização do "hoje" em construções de frases em muito semelhantes à de Lucas 23:43. Por dezenas de vezes vemos declarações semelhantes que são precedidas pelo "hoje", como, por exemplo:

(Jeremias 42:21) - E vo-lo tenho declarado hoje; mas não destes ouvidos à voz do Senhor vosso Deus, em coisa alguma pela qual ele me enviou a vós.

(Deuteronômio 6:6) - E estas palavras, que te ordeno hoje, estarão no teu coração.

(Deuteronômio 11:8) - Guardai, pois, todos os mandamentos que eu vos ordeno hoje, para que sejais fortes, e entreis, e ocupeis a terra que passais a possuir.

(Deuteronômio 30:18) - Então eu vos declaro hoje que, certamente, perecereis; não prolongareis os dias na terra a que vais, passando o Jordão, para que, entrando nela, a possuas.

(Deuteronômio 4:40) - E guardarás os seus estatutos e os seus mandamentos, que te ordeno hoje para que te vá bem a ti, e a teus filhos depois de ti, e para que prolongues os dias na terra que o Senhor teu Deus te dá para todo o sempre.

(Atos 20:26) - Portanto, eu lhes declaro hoje que estou inocente do sangue de todos.

As passagens acima são apenas alguns exemplos do emprego do "hoje" na mesma construção de frase que observamos em Lucas 23:43. Constatamos facilmente que expressões semelhantes a essa são utilizadas aos montões na Bíblia:

"...te ordeno hoje" (cf. Dt.6:6; 11:8; 4:40; 30:11; 27:10; 15:5; 30:8; 27:1; 10:13; 11:13; 15:5; 8:11; 28:14; 27:4; 13:18; 19:9; 8:1; 1:28; 28:1; 28:13)

"...declaro hoje" (cf. Je.42:21; Dt.30:18; At.20:26)

"...testifico hoje" (cf. Dt.8:19; 32:46)

"...ponho hoje" (cf. Dt.4:8)

"...proponho hoje" (cf. Dt.30:15; 11:32)

"...vos mando hoje" (cf. Dt.11:27)

"...vos anuncio hoje" (cf. Zc.9:12)

Lucas 23:43 não faz parte de uma exceção, faz parte de uma regra. De fato, o Dr. Rodrigo Silva, em sua tese de doutorado na Pontífica Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, intitulada "Análise Linguística do Sémeron em Lucas 23:43", provou com base em uma minuciosa investigação das ocorrências do advérbio sémeron nos textos gregos do Antigo Testamento (tradução da Septuaginta) e do Novo Testamento que “na maioria absoluta dos casos” em que existe uma ambiguidade semelhante à de Lucas 23:43, “a ligação de sémeron com o primeiro verbo demonstrou-se a mais natural”. A expressão "hoje" ligada ao verbo não é redundante, é enfática, e ocorre aos montões na Bíblia. Mesmo se fosse uma exceção, isso de modo nenhum invalidaria o argumento, visto que exceções também existem na Bíblia em grande quantidade.

Além disso, alegam também que Jesus se expressou diversas vezes dizendo "em verdade te digo" além de em Lucas 23:43, mas que em nenhuma delas ele adicionou o "hoje", à exceção de Marcos 14:30. Sendo assim, se Jesus não teve uma boa razão para mudar sua forma habitual de dizer o "em verdade te digo", ele deve ter se expressado conforme os imortalistas creem. O que eles não são capazes de imaginar, porém, é que existe uma boa razão pela qual Jesus adicionou o 'hoje'. E isso está totalmente relacionado ao verso anterior, em que o ladrão diz: “και ελεγεν τω ιησου μνησθητι μου κυριε οταν ελθης εν τη βασιλεια σου”, corretamente traduzido por: “Lembra-te de mim quanto vieres no teu Reino.

A palavra grega aqui traduzida por "vir" (e que algumas versões traduzem por "entrar") é erchomai, que, de acordo com o NAS New Testament Lexicon grego, significa: "vir de um lugar para outro". Ainda segundo o léxico do grego, na grande maioria das vezes em que essa palavra aparece no Novo Testamento significa vir:

Vieram: 225 vezes.
Vêm: 222 vezes.
Vem: 64 vezes.
Chegando: 87 vezes.
Foi: 18 vezes.
Vai: uma vez.
Chegou: uma vez;
Entrou: duas vezes.

Esse verbo aparece mais de quinhentas vezes ligado a "vir" e apenas duas vezes ligado a "entrar", e mesmo assim muitas traduções preferiram traduzir por "quando entrar no teu Reino", para dar algum sentido à declaração posterior de Cristo de que estaria naquele mesmo dia com Ele no Paraíso. O Thayer's Greek Lexicon afirma que essa palavra tem relação com: (a) a volta invisível de Cristo do Céu; (b) equivalente a vir para fora, mostrar-se. De acordo com Buttmann, "quando é usado com substantivos de tempo, expressa um sentido futuro, virá" (Buttmannm 204; Winer Gramática § 40, 2). Alguns exemplos de quando esse verbo ocorre na Bíblia são:

(Mateus 3:7) - Mas, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus que vinham [erchomenous] para o batismo, disse-lhes: 'Raça de víboras! Quem vos ensinou a fugir da ira vindoura'?

(Mateus 3:11) - Eu vos batizo com água para o arrependimento, mas aquele que vem [erchomenos] depois de mim é maior do que eu e eu não sou digno nem mesmo de lavar as suas sandálias.

(Mateus 3:14) - João, porém, tentou impedi-lo, dizendo: 'Eu preciso ser batizado por você, e você vem [erche] a mim?

(Mateus 3:16) - Assim que Jesus foi batizado, saiu da água. Naquele momento os céus se abriram, e ele viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo [erchomenon] sobre ele.

(Mateus 5:17) - Não pensem que vim [elthon] para abolir a lei ou os profetas; não vim [elthon] para abolir, mas para cumprir.

(Mateus 6:10) - Venha [eltheto] o teu Reino, seja feita a tua vontade, assim na terra com no Céu.

A nota de rodapé da Nova Versão Internacional também faz uma importante observação em Lucas 23:42:

"Muitos manuscritos dizem: 'quando vieres no teu poder real'" (NVI)

Os judeus criam que a vinda do Messias acarretaria na vinda imediata do Reino em sua forma visível, com um Cristo político e libertador. Contudo, a vinda de Jesus trouxe o Reino em sua forma espiritual, dando-nos vitória sobre as forças das trevas. Quando o ladrão pede para ser lembrado por Cristo “quando vieres [erchomaino teu Reino”, ou "quando vieres no teu poder real", conforme muitos manuscritos antigos trazem, ele revela a sua convicção de que ele só voltaria à vida novamente quando a vinda visível do Reino de Cristo for consumada, pois é somente neste momento (da segunda vinda de Cristo, a Sua Volta Gloriosa), que os mortos serão ressuscitados.

O ladrão sabia que ele iria morrer e pede para ser lembrado por Cristo naquele dia tão esperado em que Ele viesse em Seu reino em sua forma visível, destruindo o poder da morte e dando vida aos mortos. É neste momento que o ladrão queria ser lembrado por ele, porque é somente neste momento em que os mortos ressuscitam para estar com Cristo. Jesus, então, declara ao ladrão que não precisava pensar em tempos tão remotos para ser lembrado por ele, mas que hoje mesmo lhe garantia que com Ele estaria no Paraíso. Ele não precisaria ficar na ansiedade da volta de Jesus para ser lembrado somente dois mil anos depois para saber de seu destino final, pois naquele mesmo momento, o "hoje" em questão, Cristo lhe assegurava a salvação.

O verso 42, portanto, deixa claro que o próprio ladrão sabia que não entraria no Paraíso naquele mesmo dia, por isso pediu para ser lembrado por Cristo somente quando na Sua Segunda Vinda. Cristo, então, lhe assegurou naquele mesmo dia que o ladrão estaria com ele no Paraíso. O ladrão pediu a Jesus para lembrar-se dele no futuro quando Ele viesse em seu poder visível, mas Jesus respondeu lembrando a ele imediatamente, o “hoje” do verso, e garantindo que com Ele seria no Paraíso. Sendo assim, o emprego do "hoje" no verso 43 não é desnecessário e nem redundante. Ele não apenas serve para enfatizar como ocorre em outras dezenas de vezes na Bíblia, mas também para antecipar a garantia da salvação ao crucificado.


MAS E AS TRADUÇÕES BÍBLICAS?

Mas e as traduções bíblicas? – É alegado também pelos imortalistas que, se a vírgula deve ser colocada depois do "hoje", e não antes dele, como foi provado aqui tendo em vista todo o contexto textual, a gramática do texto em grego, a hermenêutica, os documentos antigos e as evidências históricas, então praticamente todas as versões que existem hoje estão todas adulterando a Bíblia, e que a única versão correta das Escrituras seria a "Tradução Novo Mundo", das Testemunhas de Jeová, que traduz o verso desta maneira.

Isso simplesmente não é verdade. É fato que as traduções que optaram por colocar a vírgula depois do "hoje" erraram, mas elas não erraram por desonestidade (o que seria adulteração na Bíblia), pois o verso realmente deixa em aberto as duas traduções no grego em primeira instância, mas por seus próprios pressupostos teológicos, pois todas elas defendem a tese de imortalidade da alma. Bispo Sandro, um erudito do grego bíblico, esclareceu sobre a questão das traduções bíblicas nas seguintes palavras:

"Sabe-se que toda tradução é naturalmente interpretativa e hermenêutica. Ou seja, está sempre submetida aos conceitos e ponto de vista do tradutor. Há os que sustentam uma 'imparcialidade' ou 'neutralidade' em traduções. Porém, cientificamente, sabe-se que a 'neutralidade' é um mito. O tradutor pode tender à 'imparcialidade', porém sempre há algo de sua individualidade e subjetividade que estarão presentes em sua produção textual. Nesta mesma linha, há o mito da 'tradução fiel', que é tratar a tradução como uma reprodução literal e precisa da fonte primária. Em outras palavras, uma tradução da Bíblia em português (ou qualquer outra língua) que se diga 100% fiel às fontes originais. O ideal de uma 'tradução fiel' é uma impossibilidade técnica, não há como fazer uma tradução que reproduza fielmente, em todos os aspectos, o que o autor quis dizer. Pois é óbvio, que o sentido de um texto só pode ser entendido em todas suas dimensões de significado, quando inserido em sua língua e contexto originais. Ao passar este significado ou sentido para uma outra língua, há perdas, limitações naturais que ocorrem pelo simples fato de ser uma tradução"

E ele conclui dizendo:

"Por isto, não existem traduções perfeitas, ou uma que possa ser considerada a melhor. Existem boas traduções da Bíblia publicadas por editoras Evangélicas, Católicas e Judaicas, porém, estão todas suscetíveis às críticas e às mesmas vulnerabilidades textuais que já foram mencionadas... toda tradução tem seu valor, o que não anula obviamente, suas limitações"

Essas colocações são decididamente importantes porque nos ajudam a compreender a razão pela qual a grande maioria dos tradutores optaram por colocarem a vírgula antes do "hoje": porque estão tendenciados a isso em vista de seus próprios conceitos teológicos. Isso é muito diferente de dizer que eles "adulteraram" a Bíblia. Significa apenas que, quando chega a um ponto de disputa teológica, sempre optam por seguir a linha teológica que a determinada sociedade bíblica adota - na maioria dos casos, a de imortalidade da alma. Por isso, é evidente que as traduções de imortalistas (como as Almeidas ou as católicas) vão optar por colocar a vírgula antes do "hoje", ao passo que as traduções de mortalistas (como TJS ou adventistas) vão optar por colocar a vírgula depois do "hoje".

Isso não representa nada em questão de exegese, porque a obrigação do tradutor não é de ser um exegeta, mas meramente de traduzir. Quem terá o trabalho de reunir todas as evidências bíblicas na busca da compreensão correta do texto são os eruditos bíblicos, os críticos textuais, não os tradutores. Por isso, a grande quantidade de versões bíblicas com a vírgula colocada antes do hoje apenas reflete que a grande maioria dos tradutores são imortalistas, nada a mais do que isso. Se a maioria fosse mortalista (o que algum dia pode chegar a ser), a maioria colocaria a vírgula depois do "hoje".

Isso obviamente não implica que as versões que se equivocaram colocando a vírgula antes do "hoje" estejam erradas em seu todo, nem muito menos implica que as traduções que optaram pela vírgula depois do "hoje" estejam certas em todo o resto. Todas as traduções bíblicas erram em alguns pontos e acertam em outras, e todas as traduções bíblicas tendem pelo lado teológico aceito por eles quando há uma passagem de tradução livre e fruto de interpretação bíblica.

Além disso, não é verdade que a Tradução Novo Mundo seja a única que coloca a vírgula depois do "hoje". Outras versões, como a Tradução Trinitariana, em português, editada em 1883 pela “Trinitarian Bible Society” de Londres, diz:

“Na verdade te digo hoje, que serás comigo no Paraíso”

Da mesma forma, o Emphasized New Testament, de Joseph B. Rotherham, impresso em Londres, em 1903, assim traduz Lucas 23:43:

“Jesus! Lembra-te de mim na ocasião em que vieres no Teu reino. E Ele disse-lhe: Na verdade, digo-te neste dia: Comigo estarás no Paraíso”.

O The New Testament, de George M. Lamsa, diz:

“Jesus lhe disse: Na verdade te digo hoje, estarás comigo no Paraíso”

A chamada Concordant Version, em inglês, assim traduz:

“E Jesus lhe disse: ‘Na verdade a ti estou dizendo hoje, comigo estarás no Paraíso'”

O famoso Manuscrito Curetoniano da Versão Siríaca, que está hoje no Museu Britânico, assim diz:

“Jesus lhe disse: Na verdade te digo hoje, que comigo estarás no Jardim do Éden”

O comentário da Oxford Companion Bible ainda diz:

“’Hoje’ concorda com ‘te digo’ para dar ênfase à solenidade da ocasião; não concorda com ‘estarás’”,

No Apêndice n°. 173, a famosa Oxford Companion Bible acrescenta:

“A interpretação deste versículo depende inteiramente da pontuação, a qual se baseia toda na autoridade humana, pois os manuscritos gregos não tinham pontuação alguma até o nono século, e mesmo nessa época somente um ponto no meio das linhas, separando cada palavra... A oração do malfeitor referia-se também àquela vinda e àquele Reino, e não a alguma coisa que acontecesse no dia em que aquelas palavras foram ditas".

E concluem dizendo:

“E Jesus lhe disse: ‘Na verdade te digo hoje’ ou neste dia quando, prestes a morrerem, este homem manifestou tão grande fé no Reino vindouro do Messias, no qual só será Rei quando ocorrer a ressurreição – agora, sob tão solenes circunstâncias, te digo: serás comigo no Paraíso”.

Por fim, a versão impressa da Nueva Reina Valera de 2000 assim traduz:

"Então Jesus lhe respondeu: ‘Eu te asseguro hoje, estarás comigo no paraíso’"

Portanto, é simplesmente falsa a afirmação de que a única versão da Bíblia que traduz Lucas 23:43 da maneira correta é a Tradução Novo Mundo das Testemunhas de Jeová.

De fato, Lucas 23:43 é uma mensagem em que Cristo diz ao ladrão da cruz: "Em verdade te digo hoje, estarás comigo no Paraíso", mas que os tradutores bíblicos imortalistas preferiram por suas próprias convicções teológicas traduzirem por: "Em verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso".

E assim exegese foi totalmente destruída.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

 https://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/protestantismo/903-a-imortalidade-da-alma

A imortalidade da alma


https://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/santos/720-lucas-23-e-a-hora-da-ida-do-ladrao-aos-ceus

Lucas 23 e a hora da ida do Ladrão aos céus


INTRODUÇÃO


O presente estudo visa trazer um esclarecimento sobre a polêmica passagem de Lucas 23, 43, sobre a hora que o ladrão que morreu ao lado de Jesus na cruz foi aos céus e a correta pontuação da frase. Muito embora as melhores traduções do mundo sejam quase que unânimes em traduzir a passagem da seguinte forma: “E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso.“, há ainda quem questione esta tradução e pontuação, sugerindo que ela na realidade não fala que o ladrão iria para a cruz no mesmo dia em que Jesus falou estas palavras, como as Testemunhas de Jeová e outros que acreditam na heresia do sono e da mortalidade da alma. Baseado nas argumentações apresentadas por estes, nos propomos a fazer aqui uma completa refutação ao que eles chamam de “correta tradução”. 


OBJEÇÃO I


A Tradução do Novo Mundo (TNM) das Testemunhas de Jeová pontua este versículo da seguinte forma:

E ele lhe disse: ‘Deveras, eu te digo hoje: Estarás comigo no Paraíso.’” (Lucas 23, 43)

Em defesa da colocação da vírgula depois de “hoje”, a Torre de Vigia escreve:

O relato de Lucas mostra que um ladrão, que está sendo executado ao lado de Jesus Cristo, falou palavras em defesa de Jesus e pediu que Jesus se lembrasse dele quando ele entresse em seu reino. A resposta de Jesus foi: “Em verdade vos digo hoje: Estarás comigo no Paraíso.” (Lucas 23, 39-43) A pontuação mostrada na prestação dessas palavras deve, é claro, depender da compreensão do tradutor do sentido das palavras de Jesus, uma vez que nenhuma pontuação foi usada no texto original grego. Pontuação no estilo moderno não se tornou comum até por volta do século IX d.C. Considerando que muitas traduções colocam uma vírgula antes da palavra “hoje” e, assim, dá a impressão de que o malfeitor entrou no Paraíso naquele mesmo dia, não há nada no resto das Escrituras para apoiar isso. O próprio Jesus estava morto e no túmulo até o terceiro dia e depois foi ressuscitado como “as primícias” da ressurreição. (Atos 10, 40, 1 Coríntios 15. 20; Col 1, 18) Ele ascendeu ao céu 40 dias depois. João 20, 17; Atos 1, 1-3, 9.

A prova é, portanto, que o uso da palavra “hoje” por Jesus não foi para dar tempo que o malfeitor estaria no Paraíso, mas, sim, chamar a atenção para o tempo em que a promessa foi feita e enquanto o malfeitor mostrava uma medida de fé em Jesus. Foi um dia em que Jesus foi rejeitado e condenado pelos maiores líderes religiosos de seu próprio povo e depois foi condenado a morrer pela autoridade romana. Ele tinha se tornado um objeto de escárnio e ao ridícularização.Assim, o malfeitor ao lado dele mostrou uma qualidade notável e atitude louvável de coração em não ir junto com a multidão, mas, sim, falando em nome de Jesus e expressando a crença em seu reinado vindouro. Reconhecendo que a ênfase está colocada corretamente na hora que a promessa foi feita e não no momento da sua realização, outras traduções, como aquelas em Inglês feitas por Rotherham e Lamsa, aquelas em alemão por Reinhardt e W. Michaelis, bem como no curetoniano sírio do século V d.C, tornou o texto de uma forma semelhante à leitura de Tradução do Novo Mundo, aqui citada.” (Insight on the Scriptures. 2 Volumes. Brooklyn, NY:  Watchtower Bible and Tract Society of New York, Inc. “Paradise”).

 

RESPOSTA I


Gostaria em primeiro lugar salientar que a pontuação deste verso é de pouca importância para os cristãos ortodoxos. Nossa teologia não é negativamente impactada se a vírgula ocorre depois de “hoje” em vez de antes. No entanto o mesmo não acontece com a teologia da Torre de Vigia. O ensinamento da Torre de Vigia que o morto cessa de existir, exceto na mente de Deus e que Jesus estava realmente “morto” no túmulo é colocado em risco, se Jesus estiver, de fato, prometendo o ladrão que ele iria estar com o Senhor no paraíso no mesmo dia. A torre de vigia é obrigada a defender sua colocação da vírgula para preservar sua teologia; Os cristãos ortodoxos não têm tal fardo. Se a evidência apoia fortemente a maioria das traduções contra a TNM, é razoável concluir que a tradução da Torre de Vigia deve mais a teologia do que a uma busca rigorosa de precisão na tradução.

 

A torre de vigia está correta que a colocação da vírgula deve depender da compreensão do tradutor do que Jesus quis dizer. Também está correto quando diz que “muitas” traduções colocam a vírgula antes hoje[1]. A questão, então é, por que tantas traduções colocam a vírgula antes de “hoje”, se este versículo não é teologicamente significativo para a maioria dos tradutores. Não se pode dizer que isso é apenas uma questão de convenção, pois todas as traduções não são uniformes em pontuar outros versos, mesmo aqueles mais teologicamente significativos para os cristãos ortodoxos do que Lucas 23, 43 (por exemplo Romanos 9, 5). Em outras palavras, deve haver boas razões para além da teologia ou convenção gramatical para dar conta da quase uniformidade com que estudiosos tratam este versículo.

“Em verdade vos digo…” as frases de Jesus.

A resposta está nas características da fórmula Jesus usa em Lucas 23, 43: “Em verdade vos digo…” O Dicionário de Jesus e dos Evangelhos descreve esta fórmula da seguinte maneira:

Amém’ é usada cem vezes nos Evangelhos… É sempre a primeira palavra da expressão estereotipada “Em verdade vos digo” e é sempre e somente falada por Jesus, aparentemente para enfatizar o significado das palavras que ele está prestes a falar. Nenhuma outra pessoa – apóstolo ou profeta – da igreja primitiva sentiu a liberdade de seguir o seu exemplo, fazendo uso dessa mesma fórmula” (Dicionário de Jesus, p. 7).

Assim, temos uma fórmula -aparentemente inventada por Jesus- usada quase 100 vezes nos evangelhos, que precede uma expressão solene de grande importância. A fórmula nunca é modificada por um advérbio de tempo; tudo o que se segue é considerado parte da expressão que Jesus enfatiza. Entendendo “hoje” como parte da promessa que Jesus faz ao ladrão se adapta perfeitamente ao contexto, pois, como John Gill aponta em seu comentário, citado acima, o ladrão estava pedindo a Jesus que se lembrasse dele no seu reino futuro. Mas Jesus disse-lhe: “Em verdade vos digo que, hoje estarás comigo no paraíso.”.

Parece óbvio que a grande maioria dos tradutores ao longo dos séculos têm entendido que Jesus está aqui usando justamente a fórmula “Em verdade te digo…” como ele faz em cerca de 100 exemplos em outros lugares nos Evangelhos. É extremamente improvável que só aqui -onde a colocação da vírgula significa muito para a Torre de Vigia- Jesus alterou sua fórmula, adicionando “Hoje”.

A Torre de Vigia afirma que nada nas Escrituras apoia a ideia de que o ladrão entrou no Paraíso e foi com Jesus naquele dia. Mas este argumento baseia-se na interpretação da Torre de Vigia do restante da Escritura, que em si é no mínimo discutível. Além disso, se Jesus está realmente usando a fórmula em Lucas 23, 43 exatamente como ele faz em qualquer outro versículo em que ele a usa, este versículo nega expressamente a interpretação da Torre de Vigia do resto das Escrituras. De fato, há evidências substanciais no Novo Testamento que os crentes são tomados imediatamente após a sua morte a uma existência consciente com Jesus no Paraíso. Paulo, por exemplo, escreve:

 “Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne.” (Felipenses 1, 23-24; veja também II Coríntios 6, 6; 8-9)

A torre de vigia, é claro, tem a sua própria interpretação idiossincrática desse versículo que se harmoniza com a sua própria teologia, mas deve-se admitir que a leitura simples do texto é que Paulo está esperando para ver o Senhor, quando ele partir e não na futura ressurreição dos santos. Se somarmos a isso a representação de santos mortos no céu, no livro de Apocalipse (por exemplo, Apocalipse 6, 9-10), a parábola de Lázaro e do rico (Lucas 16,  19-31), e a promessa de Jesus que aqueles que creem n’Ele “nunca morrerá” (João 11, 25-26), é claro que as Escrituras contêm um amplo suporte para a ideia de que o ladrão poderia, de fato, estar com Jesus naquele mesmo dia.

Se esta evidência não é suficiente, considere uma passagem apenas alguns capítulos depois no Evangelho de Lucas:

E eles, espantados e atemorizados, pensavam que viam algum espírito. E ele lhes disse: Por que estais perturbados, e por que sobem tais pensamentos aos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho.” (Lucas 24, 37-39)

Se o resto da Escritura não apoia a ideia de que a alma do ladrão poderia existir fora de seu corpo, então certamente os discípulos saberia disso e, portanto, não teria pensado que um Jesus vivo poderia ser um espírito. Mesmo que os discípulos estivessem confusos quanto a este ponto, por que Jesus não corrigi-os, em vez de incentivá-los nessa crença “antibíblico”? De fato, Jesus confirma a ideia de que ele poderia ter sido um espírito, mas pelo fato de que ele possuía o seu corpo! Se os espíritos podem existir fora de seus corpos, é perfeitamente razoável concluir que o espírito do ladrão iria estar com Jesus no dia em que morresse, e concluir que estaremos com Ele, também, se colocarmos a nossa fé n’Ele, como o ladrão fez.

Outras Traduções

A Defesa final da Torre de Vigia é que um punhado de outras traduções e a curetoniana síria também coloca “hoje” com “Em verdade vos digo” e não na expressão seguinte. Deve ser primeiro salientado que este argumento de autoridade, não prova que a vírgula é deslocada na maioria das traduções. A TNM não pode ser a única em sua pontuação deste versículo, mas esse fato não estabelece sua correção.

As duas versões em inglês mencionadas pela Torre de Vigia são Rotherham e Lamsa. A tradução de Rotherham de Lucas 23, 43 pode muito bem ser influenciada por EW Bullinger, a quem Rotherham conhecia os pontos de vista e a respeito[2]. Se as visões de Bullinger foram bem fundamentadas serão analisadas mais adiante neste ensaio. Em qualquer caso, a tradução de Rotherham não foi reconhecida pelos estudiosos da Bíblia de qualquer persuasão teológica como sendo autoritária. A tradução de George Lamsa pode ter sido uma vez pontuada como afirmam, mas todas as edições eu vi colocam a vírgula no local tradicional. Além disso, se a fonte aramaica da Lamsa foi a Peshitta (Bruce Metzger manifestou algumas dúvidas sobre este ponto[3]), as traduções inglesas da Peshitta por James Murdock e JW Etheridge, também, colocam a vírgula antes de “Hoje”.

 A versão Curetiana Siríaca

Em relação ao curetoniano siríaco, é verdade que ele coloca “hoje” com “Em verdade vos digo”, mas é problemático usar este fato em apoio a uma compreensão correta do texto original grego. Os antigos evangelhos siríacos são preservados em dois manuscritos: O Sinaitico e a curetoniano. Ambos contêm Lucas 23, 43. O Sinaitico provavelmente antecede ao curetoniano por cerca de 100 anos. Burkitt postula que o Sinaitico é um texto siríaco mais preciso, enquanto o curetoniano foi corrigido a partir de um texto grego mais tardio (uma contendo um número de passagens espúrias (Burkitt, Crawford, Evangelion Da-Mepharreshe, Vol 2, Gorgias Press, 2003.))

Lucas 23, 43 no texto do Sinaitico lê-se:

Jesus disse a ele, Em verdade eu te digo, hoje estarás comido no Paraíso[4]

A Peshitta Siríaca concorda com o texto sinaítico, contra o curetoniano, assim como o siríaco Diatessaron, o Sahidiccopta, e uma série de manuscritos do latim antigo. Efrém, comentarista do século IV sobre os Evangelhos siríacos, cita este verso três vezes, omitindo o “hoje”. No entanto, diz ele:

 “Nosso Senhor encurtou sua liberalidade distante e deu uma promessa próxima, hoje e não no final…. Assim, através de um ladrão o paraíso foi aberto.[5]

O manuscrito curetoniano é, portanto, de nenhum valor para determinar a pontuação correta de Lucas 23, 43. Não pode ser demonstrado que a sua leitura foi considerada como normativa dentro da tradição siríaca do evangelho. Mais importante ainda é que a sua ligação a um original grego não pode ser estabelecida. O máximo que se pode dizer é que um tradutor siríaco ou corretor tornou o verso de uma forma semelhante à TNM. Não foi estabelecido que esta tradução é precisa. A evidência que temos sugere que não foi. Como estudioso siríaco dos Evangelhos P.J. Williams diz:

Enquanto o Grego podem ter sido ambíguo, intérpretes antigos esmagadoramente escolheram a interpretação oposta à da Torre de Vigia.[6]

 

OBJEÇÃO II


O apologista pró testemunha de Jeová, Greg Stafford, oferece uma série de argumentos em favor da pontuação da TMN de Lucas 23, 43.

 
Codex Vaticanus

Sua primeira argumentação é que um grande manuscrito antigo do Novo Testamento contém um sinal de pontuação – o equivalente a uma vírgula – depois de “hoje”, assim como faz a TNM:

 “Enquanto a pontuação em manuscritos do NT dos primeiros séculos d.C não é comum, um dos melhores, se não o melhor testemunho do texto do NT, o Codex Vaticanus ou B (Vaticano 1209) do século IV dC, tem uma marca de pontuação em Lucas 23, 43; a pontuação não é depois de “digo”, mas depois da grega palavra sêmeron, ‘hoje’”. (Stafford, jehovah’s Witnesses Defended: An Answer to Scholars and Critics.  2nd Edition.  Huntington Beach, CA: Elihu Books. pp. 546-547).

Stafford diz que um estudioso da Biblioteca do Vaticano verificou por carta que a marca em questão não parece ser por um copista posterior, devido à cor da tinta. Sr. Stafford conclui que data do século IV e, portanto, oferece suporte textual para a pontuação da TMN a partir de um antigo manuscrito grego confiável.

 

RESPOSTA II


Não é de totalmente claro que o ponto no Codex B é uma marca intencional de pontuação. Pode ser nada mais do que um ponto ou uma mancha de tinta acidental.    

 
Uma mancha de tinta “acidental” ou ponto no Codex Vaticanus. A mancha aparece entre o rho e kappa em sarkos (‘carne’) em Romanos 9, 8.A imagem publicada da Torre de Vigia da alegada pontuação em Lucas 23, 43, Codex Vaticanus.
 
Se o ponto é, de fato, uma marca de pontuação intencional, ele quase certamente não foi feito pela mão original. O escriba original não usou o ponto, pois quando o manuscrito faz o uso de pontuação (o que ele faz raramente), ele geralmente adiciona um espaço extra, que não é o caso aqui:
 
Espaçamento típico acrescentado depois de uma pontuação em Codex Vaticanus (entre Lucas 22, 30 e 22, 31)

Além disso, se o escriba tinha a intenção de colocar uma vírgula após sêmeron, ele provavelmente teria usado o ponto médio como fez após ‘sarka’ em Romanos 9, 5 (e vários outros lugares) não, o ponto mais baixo, o que era mais ou menos equivalente ao nosso ponto e virgula.

Por fim, que eu saiba, não houve comentaristas ou críticos textuais que mencionassem a suposta vírgula no Vaticanus. Bruce Metzger, em seu Comentário Textual do Novo Testamento em grego, não diz nada sobre isso, mesmo que ele abordando o curetoniano Syraic (ver acima) em relação à pontuação correta de Lucas 23, 43, e discute o sinal de pontuação do Vaticanus em Romanos 9, 5.

O manuscrito Vaticanus foi originalmente escrito no século IV em tinta marrom, com um corretor logo depois de fazendo algumas pequenas mudanças. Em seguida, um escriba mais tarde, no século X ou XI, traçou sobre as letras em tinta preta, ignorando aquelas letras ou marcas que ele pensava estar errado, e fazer algumas mudançasadicionais. Como se observa, o Sr. Stafford (citando uma carta de um estudioso da Biblioteca do Vaticano) diz que o ponto é ‘marrom desbotado’ e conclui que data do século IV e não do copista medieval mais tardio. Sobre a cor poder indicar uma data de início para o ponto, isso não é certo. Mesmo que seja, não é estabelecido que é da mão original ou corretor do século IV, e o fato de que não foi reforçada pelo corretor mais tardio, indica que ele considerou esse ponto como não intencional ou por erro. Dr. Peter M. Head, especialista em manuscritos do Novo Testamento, escreve:

Eu não acho que é a pontuação. Certamente não na produção de escriba original: não há nada parecido em toda a abertura (a pontuação no Vaticanus é quase inteiramente apenas pelo espaçamento), ele não se parece com um ponto, mais como uma mancha ou como você disse, uma mancha; e o espaçamento está todo errado para ser a pontuação do escriba original. Suponho que é adicionado mais tarde por alguém querendo repontuar o texto, mas mesmo assim eu não estou convencido de que a cor é a mesmo que o outro material introduzido pelo potenciador / acentuador, então você tem que atribuí-la a um leitor/ pontuador desconhecido.

Portanto, o máximo que se pode dizer é que, se o ponto é pontuação intencional, não foi copiado de um exemplar do escriba original, mas foi introduzido – por uma razão desconhecida – por mão desconhecida em um momento incerto. Isto pareceria evidência incerta, de fato, de uma tradição textual nos manuscritos gregos que datam do século IV, como o Sr. Stafford propõe.

Mas e se pudesse ser estabelecido que a marca é intencional e data do século IV (como improvável que pareça) – então, fornece apoio inicial para a pontuação da TMN? Sim e não. Seria forneceria provas além do curetoniano siríaco que alguém há muito tempo, devido à ambigüidade do grego, entendeu (ou incompreendida) o verso como a Torre de Vigia faz. Mas não provaria nada em relação ao que Lucas tinha em mente. Os estudiosos textuais que pontuam o nosso Novo Testamento grego não fazem com base na pontuação de manuscritos antigos:

A presença de marcas de pontuação em manuscritos antigos do Novo Testamento é tão esporádica e casual que não se pode inferir com confiança a construção dada pelo pontuador a passagem.” (Metzger, p. 460, n. 2.)

Assim, mesmo concedendo ao Sr. Stafford seu argumento, a presença de um sinal de pontuação (se é que é) em um manuscrito antigo não nos diz nada sobre como pontuar corretamente Lucas 23, 43. A pontuação correta é uma questão de exegese, não de crítica textual.

 

OBJEÇÃO III


Muito dos que advogam a localização da vírgula depois de sêmeron, Greg Stafford inclui citando E.W. Bullinger em suporte da visão que “hoje” em Lucas 23, 43 é um hebraísmo que expressa definição de ocasião:

A palavra “verdade’ nos aponta para a solenidade da ocasião, e para a importância do que está prestes a ser dito. A circunstância solene em que as palavras foram proferidas marcou a maravilhosa fé do malfeitor moribundo; e o Senhor se referiu a este ligando a palavra “hoje” com “eu digo”. “Em verdade, te digo hoje.”. Este dia, quando tudo parece perdido, e não há esperança; Neste dia, quando, em vez de reinar estou prestes a morrer. Este dia, eu te digo: “Tu estarás comigo no paraíso.”

“‘Eu te digo hoje’ era uma expressão hebraica comum para enfatizar ocasião de fazer uma declaração solene (Ver Deuteronômio IV. 26, 39, 40; v. 1; vi. 6; VII.11; VIII. 1; 11, 19; IX. 3; X. 13; XI. 2, 8, 13, 26, 27, 28, 32; XIII. 18; XV. 5; XIX. 9; XXVI. 3, 16, 18; XXVII. 1, 4, 10; XXVIII. 1, 13, 14, 15; XXIX. 12; XXX. 2, 8, 11, 15, 16, 18, 19; XXXII. 46).” (E. W. Bullinger, How to Enjoy the Bible, 5th ed. (London: Eyre & Spottiswoode, 1921), p. 48.)

Stafford então conclui:

Dos 40 exemplos listados por Bullinger pelo menos 33 são paralelos a Lucas 23, 43 em usar um verbo de discurso ou comando com ‘hoje’” (Stafford, p. 550)

RESPOSTA III


Seria, na verdade, uma evidência impressionante em favor da pontuação TNM se houvesse 33 paralelos do AT de Lucas 23, 43. Mas eu acredito que Bullinger e aqueles que o citam estão exagerando. Nem uma só vez em qualquer um dos textos listados por Bullinger que o orador começar com as palavras “Em verdade”. Como mencionado acima, este recurso de expressão de Jesus é único que usa “Em verdade vos digo…” sem qualquer outra coisa parecida na linguagem bíblica. Além disso, em nenhum desses textos do AT o falante usa a palavra legô. Moisés, por exemplo, usa vários verbos de discurso em suas frase com “hoje” em Deuteronômio, mas ele não usa legô sequer uma vez nestes contextos. Assim, nenhum dos exemplos listados por Bullinger (ou os outros listados por Stafford) como “paralelos” de  Lucas 23, 43 contém as palavras “em verdade” ou “legô”.

 

Quando nos voltamos para o NT, não parece que essa “expressão hebraica comum” é comum a todos. Há apenas um versículo (deixando de lado Lucas 23, 43) que pode ser um exemplo des expressão idiomática: Atos 20, 26. Aqui, Paulo está usando uma linguagem quase legal, semelhante à linguagem de aliança de Deuteronômio. É significativo que aqui, como no Antigo Testamento, o verbo não é legô. Em vez disso, Paulo usa um verbo que significa “testemunhar’: “eu testifico a você neste dia que…” (marturomai humin en tê sêmeron Hemera Hoti…). Isto é semelhante a Deuteronômio 8, 19 na LXX: “Eu testemunho contra você hoje…” (O verbo aqui é diamarturomai, um cognato próximo de marturomai).

Jesus é citado usando a palavra sêmeron 12 vezes no evangelho. Em nenhum dessas, ela ocorre como parte de uma frase introdutória. Jesus, no entanto, faz uma série de declarações solenes e formais precedidas da expressão “Eu vos digo…” (alguns com “Em verdade”, alguns sem). Na verdade, uma pesquisa de Gramcord revela 144  exemplos do tipo. Assim, temos 144 casos de Jesus fazendo uma proclamação formal e nenhuma delas usando a palavra “hoje”, e nenhuma delas reflete a chamada a “expressão hebraica comum”.

Deixando de lado Lucas 23, 43, há apenas uma ligeira evidência de que a expressõa idiomática hebraica, como definido por Bullinger, na verdade ocorre no NT (somente Atos 20, 26, onde o verbo é “testemunhar”). Não há evidências de que esta linguagem ocorre com o verbo legô, e não há evidências de que Jesus usa essa expressão com qualquer verbo. Se colocarmos essa evidência contra 74 exemplos de Jesus dizendo: “Em verdade vos digo...” (e 70 mais de onde Ele simplesmente diz: “Eu te digo…”), parece claro que Lucas 23, 43 é paralelo destes exemplos, e não aqueles listados por Bullinger e Stafford.

 

OBJEÇÃO IV  (O não uso do “hoti”= “que”)


Aqueles que advogam a pontuação TNM também citam Bullinger em apoio da sua tese de que o não-uso de Hoti (uma conjunção que muitas vezes significa “que”) indica que sêmeron vai com “em verdade vos digo” e não o que se segue:

A interpretação deste versículo depende inteiramente da pontuação, a qual repousa inteiramente na autoridade humana, os manuscritos gregos não tinham a pontuação de qualquer tipo até o século IX, e então é só um ponto no meio da linha que separa cada palavra.

O verbo “dizer”, quando seguido de Hoti, introduz o ipsissima verba do que é dito; e respostas às nossas aspas. Então, aqui (em Lucas 23, 43), na ausência de Hoti (= “que”), pode haver uma dúvida quanto às palavras reais incluídas na cláusula dependente. Mas a dúvida é resolvida (1) pelo expressão hebraica comum, “te digo isto hoje” que é constantemente utilizado para dar ênfase muito solene; bem como (2) pelo uso observável em outras passagens onde o verbo está conectado com a palavra sêmeron = hoje.

 1. Com hoti:

Marcos 14, 30: “Em verdade te digo, que (Hoti) este dia… tu me negaras três vezes.”

Lucas 4, 21: “E Ele começou a dizer-lhes que (Hoti) ‘Este dia esta Escritura se cumpriu em vossos ouvidos. ’”.

Lucas 5, 26: “Dizendo (Hoti = que), ‘Temos visto coisas estranhas hoje.’”

Lucas 19, 9: “Jesus disse-lhe que (Hoti), ‘hoje a salvação entra nesta casa’”

Para outros exemplos do verbo “dizer”, seguido por “Hoti”, mas não conectado com sêmeron (hoje), ver Mat. 14,26; 16, 18; 21, 3; 26, 34; 27, 4; Marcos 1,40; 6, 14.15.18.35; 9, 26, 14, 25; Lucas 4, 24.41; 15, 27; 17, 10; 19, 7.

2. Sem hoti:

Por outro lado, na ausência de hoti (= que), a relação da palavra “dia” deve ser determinada pelo contexto.

Lucas 22, 4: “E Ele disse: ‘Digo-te, Pedro, de modo algum o galo cantarará hoje, antes que tu negues três vezes que tu conheces-me.’”. Aqui, a palavra “dia” está ligada com o verbo “cantar”, uma vez que o contexto o exije. Compare Heb. 4, 7.

É o mesmo em Lucas 23,43: “E Jesus disse-lhe: ‘Em verdade te digo hoje [ou este dia de hoje, quando, embora eles estivessem prestes a morrer, este homem tinha expressado tão grande fé no Reino vindouro do Messias, e, portanto, a ressurreição do Senhor para ser seu rei – agora, sob tais circunstâncias solenes] tu estarás, comigo, no Paraíso’”. Porque, quando o Messias reina, Seu Reino irá converter a terra prometida num paraíso. Leia Isa. 35, e veja nota em Eclesiastes. 2, 5.” (The Companion Bible (London: Oxford University Press, 1932), Appendix 173.)

Stafford escreve: 

Se Lucas queria separar “hoje” de “Eu te digo”, depois de tudo o que Lucas tinha que fazer era colocar semeron (“hoje”) após Hoti, o que ele faz não uma, nem duas, nem três vezes, nem quatro vezes, mas cinco vezes!… Na verdade, Lucas 23, 43 é a única instância desde Lucas 22, 34, onde um verbo de expressão é usado com semeron e onde Hoti não o separa daquele verbo.” (Stafford pg. 551-552).

 

RESPOSTA IV


Deve salientar-se que Bullinger não vai tão longe como Stafford ou outro apologista testemunha de Jeová ao afirmar que se Lucas quisesse separar “Eu te digo” de “hoje”, ele teria usado Hoti. Bullinger simplesmente demonstra o fato bem conhecido que Hoti muitas vezes é usado para introduzir o discurso direto nogrego do Novo Testamento, sendo neste uso mais ou menos equivalente as nossas aspas. Ele corretamente diz que sem Hoti, o contexto deve determinar onde a cláusula introdutória termina e a oração principal começa. Bullinger, claro, coloca “hoje” com “Eu te digo”, alegando que ele reflete uma “expressão hebraica comum”. Conforme detalhado acima, este ponto de vista é quase certamente errado.

 

O fato de que Lucas poderia ter usado Hoti para separar “Eu te digo” de “hoje” é verdade, mas não prova nada; Lucas também poderia ter usado Hoti para incluir “hoje” com “Eu te digo’, colocando-o depois sêmeron. O uso ou não uso de Hoti parece ser puramente uma escolha estilística dos autores do NT em uma base de caso-a-caso. Lucas, por exemplo, usa Hoti em 4 frases com “em verdade” (4, 24; 12, 37; 18, 28; 21, 32) e omite-o em dois (18, 17 e 23, 43). Das 74 palavras “Amen” registradas nos Evangelhos, 34 omite hoti. Não parece haver nenhuma diferença semântica entre o uso de hoti ou sua omissão nesses versículos. Este fato é ilustrado por Marcos 9, 41 e 11, 23, que contêm hoti, e as passagens paralelas em Mateus 10, 42 e 21, 21, que não contém. Curiosamente, Marcos 14, 25 é vagamente acompanhado por Mateus 26, 29 e Lucas 22, 18. Apesar de muitas variações destas versos, as frases introdutórias de cada um são bastante similar.Marcos usa hoti, enquanto Mateus não. Lucas provavelmente não usa hoti, também. Mas nenhum estudioso grego argumenta que o significado da frase introdutória é alterada substancialmente pela presença ou ausência de hoti.

Significativamente, em nenhum lugar dos 144 exemplos das frases de Jesus “Eu te digo” ou “Vos digo” hoti é usado para incluir um advérbio na frase introdutória. É claro que a expressão regular de Jesus é “eu te digo” ou “Em verdade vos digo”, e não “Eu te digo hoje”.

Stafford está correto que cinco vezes Lucas coloca hoti entre um verbo de fala e sêmeron, mas este fato não provar nada que Lucas teria feito isso em Lucas 23, 43, com a intenção de separar “hoje” de “eu te digo”. Em quatro dos cinco exemplos, hoti é utilizado em sua função regular para marcar o que segue como uma citação direta (4, 21; 5, 26; 19, 9; 22, 61); nenhuma destas expressões é paralela a frase de Jesus “Digo-vos”. No exemplo restante (2,11), as funções hoti é como uma conjunção causal (“porque”)[7] e por isso não pode ser justamente comparada com o função que hoti iria realizar, se Lucas usasse em 23, 43.

Stafford e outros defensores que argumentam que a ausência de hoti exige que sêmeron modificque o verbo precedente está lendo demais para as provas que eles apresentam. A não utilização da hoti não é problema na pontuação correta de Lucas 23, 43.

 

OBJEÇÃO V (“HOJE” NA LXX)


Os apologistas das Testemunhas de Jeová afirmam que o uso de sêmeron na LXX apoia a opinião de que em Lucas 23, 43 a palavra deve se modificar “Eu te digo” em vez de “Você estará comigo…” Referindo-se a citação de Bullinger do livro “How to Enjoy the Bible” citada acima, Greg Stafford escreve:

Em cada um dos exemplos listados por Bullinger, se elas envolvem o uso de um verbo de fala ou não, “hoje” é sempre usado com o verbo que o precede” (Stafford, p. 551).

Sr. Stafford também cita Atos 20, 26 em apoio do seu ponto de vista.

 

RESPOSTA V


Quando se considera exemplos LXX, além dos listados por Bullinger, é claro que sêmeron pode, e muitas vezes, modificar o verbo seguinte (Levítico 10, 19; Josué 5, 9; 22, 31; I Samuel 10, 19; 11,13; 2 Samuel 14, 22; 15, 20; 16, 3; Salmo 2, 7; 95, 7; Provérbios 7, 4). Mais importante, quando se considera o uso de Lucas de sêmeron em Lucas e Atos, das 20 ocorrências, oito modificam o verbo que se segue (Lucas 4, 21; 13, 33, 19, 5.9, Atos 4, 9; 13, 33; 26, 2; 27, 33). Assim, Lucas a colocação de sêmeron antes do verbo modifica 40% das vezes. Mais uma vez, a conclusão do Sr. Stafford parece exagerada.

 

OBJEÇÃO VI


Apologistas das testemunhas de Jeová e sites têm frequentemente citado evidências apresentadas em um tópico na lista de discussão do B-Grego no início de 2000 que sugere que pelo menos alguns cristãos já no século IV entendiam Lucas 23, 43 como sendo pontuado como é na TNM. Eles citam o fato de que o moderador da lista, Carl Conrad, foi convencido a mudar seu ponto de vista como resultado desta evidência. Uma cópia do post público de Conrad detalhando por que ele mudou de ideia pode ser encontrada aqui.

 

RESPOSTA VI


Parece pela própria admissão de Conrad que ele mudou de ideia depois de analisar em vários lugares (dois, que remonta a 1996) ao longo de uma noite. Não parece que ele teve tempo para investigar as provas apresentadas para avaliar completamente o mérito. Eu acredito que essa investigação vai revelar que a evidência mostra um pouco menos do que parece inicialmente.

 

Já foram discutidas duas evidências introdutórias à lista do B-Grego acima (Codex B e o curetoniano siríaco). A evidência restante é uma série de citações de textos cristãos, cada um, referido na nota de Lucas 23, 43 do Novo Testamento Grego de Tischendorf. Deve notar-se que Tischendorf colocou a vírgula antes sêmeron no seu texto crítico, e cita um número de fontes de suporte essa pontuação; aparentemente, em sua opinião, a evidência postou seletivamente para B-grego não foi significativa na determinação da pontuação adequada do texto.

Hesiquio de Jerusalém

A primeira citação fornecida à lista B-grego era de Hesychius de Jerusalém um escritor eclesiástico que morreu cerca de 434 d.C:

Tines men houtos anaginoskousin* Amen lego soi semeron* kai hypostizousin* eita epipherousin, hotiet’ emou ese e to paradeiso

Tradução:

Alguns realmente leem assim: ‘Em verdade vos digo hoje’, e colocam uma vírgula, em seguida, eles acrescentam: ‘Você estará comigo no Paraíso.’” (Patrologia Graeca, Vol. 93, columns 432, 1433.) 

Esta citação é de “Coleção de Dificuldades e Soluções” (retirado de seu “Harmonia dos Evangelhos”). Os textos associados Hesíquio na Patrologia Graeca de Migne não são todos do Hesíquio de Jerusalém século V, e parece haver alguma dúvida se a coleção é realmente deste e não algum outro.[8]

Assumindo que a coleção é realmente uma obra de Hesíquio de Jerusalém, é importante colocar a sua citação no contexto.  A coleção é composta de uma série de “dificuldades” do texto bíblico, seguido por “soluções” do autor. Na seção “dificuldade” de Lucas 23, 43, Hesíquio escreve:

Como o Senhor pode cumprir de imediato sua promessa ao ladrão: “Hoje estarás comigo no Paraíso?” (Sêmeron met emou esê en to puradeiso)se de fato após a crucificação, Cristo estava no Hades libertando os mortos; ao contrário, é apropriado que o ladrão fosse responsável por sua natureza,” (ou, em uma leitura variante, que o ladrão foi para Hades) (Migne, PG, 93, 1431, tradução minha).

Hesíquio, então, entendia seus exemplares como apresentando sêmeron como modificando “você estará comigo…” e não “Em verdade vos digo…” a questão aberta de Hesíquio pressupõe  que essa compreensão de “hoje” é a opinião da maioria. Mas como poderia uma “dificuldade” surgir em primeiro lugar? Hesíquio não está sozinho entre os pais da igreja pós-Nicéia em ensinamento que Jesus desceu ao Hades para pregar aos espíritos em prisão durante os três dias que o seu corpo jazia no túmulo (1 Pedro 3, 19). Para explicar a “dificuldade” em Hesíquio, podemos postular uma de duas possibilidades:

1 – Lucas pretendia com sêmeron modificar “Em verdade vos digo…” e foi assim entendido pela Igreja primitiva. Mas por causa da ambigüidade do grego, a maioria dos cristãos começou a levá-la a modificar “Você vai estar comigo…”, apesar do fato de que esta pontuação criava uma dificuldade em relação ao ensino da descida de Cristo ao Hades.

2 – Lucas pretendeu com sêmeron modificar “Você estará comigo…” e foi assim entendido pela Igreja primitiva. Mas por causa da ambiguidade do grego, alguns cristãos começaram a levá-lo a modificar “Em verdade vos digo…”, porque essa pontuação removia uma dificuldade em relação ao ensino da descida de Cristo ao Hades.

Uma vez que exegetas e comentadores de todas as épocas procuram resolver as dificuldades ao invés de criá-las (assim como Hesíquio faz), a opção 2 parece de longe o mais correta.

Hesíquio responde à “dificuldade” da seguinte forma:

Alguns, de fatoensinam: ‘Em verdade te digo hoje’ – e uma vírgula – em seguida, acrescentam: “Comigo você estará no paraíso.” Como se dissesse: ‘Em verdade vos digo hoje, embora você esteja na cruz, estará comigo no Paraíso’. Mas, se a [difícil] leitura é correta, não há contradição; uma vez que divindade de nosso Salvador é ilimitada, Ele não foi apenas no Hades, mas também para o paraíso com o ladrão, e do Hades, e com o Pai, e no túmulo, na medida em que Ele enche todas as coisas”. (Migne, PG, 93, 1432 -1433; tradução minha)

Hesíquio confirma que “alguns” em sua época colocavam uma vírgula depois de “hoje”. Ele não nos diz quem ou quantos eram, o que torna difícil avaliar os méritos de seu ponto de vista, mas ele não explica o que quis dizer com a sua pontuação preferida: Não era para enfatizar quando Jesus estava falando, nem a utilização de uma “expressão hebraico comum” nem para seguir convenção da LXX, mas para resolver a posição atual do ladrão na cruz naquele dia, em contraste com o seu estado futuro e abençoado no Paraíso. Este fato é mais uma prova de que os vários argumentos gramaticais discutidos anteriormente eram desconhecidos no início da igreja, até mesmo por aqueles que defendem colocar a vírgula depois de “hoje”.

Hesíquio então continua a dizer que, se a leitura em sua seção de “dificuldade” estiver correta (ou seja, que “hoje” modifica “Eu estarei com você..”), não é um problema, porque a divindade de Cristo não se limita a um único lugar, mas permite que Ele esteja presente de uma só vez no Hades e no Paraíso, e – de fato – em todos os lugares ao mesmo tempo.

Assim, Hesíquio fornece apenas evidências marginais que Lucas destina uma vírgula depois de “hoje”, pelas seguintes razões:

1- Não é certo que Hesíquio de Jerusalém é o autor da coleção. Se não, pode datar de muito depois do século V.

2- Não sabemos quem são os “alguns” que ensinaram que a vírgula deveria ser colocada após sêmeron.

3- Não sabemos quão disseminado o seu ensino era nem quantos anos ela tinha.

4- Sabemos que a opinião da maioria foi que sêmeron modificava “Você estará comigo…”.

5- É muito mais provável que a pontuação que resolveu uma dificuldade doutrinal veio mais tarde.

6- A colocação da vírgula não era devido ao uso LXX ou uma expressão hebraica.

Teofilato

A próxima citação fornecida à lista B-Grego foi Teofilato da Bulgária um escritor eclesiástico que morreu por volta de 1112 d.C:

 “Alloi de ekbiazontai to rhema, stizontes eis to Semeron, hin’ e to legomenon toiouton* Amen ego soi semeron* eita to, met’ emou ese  en to paradeiso epipherontes.

Tradução:

Mas outros pressionam sobre a expressão, colocando um sinal de pontuação depois de ‘hoje’, de modo que seria dito assim: ‘Em verdade vos digo hoje’, e, em seguida, eles acrescentam a expressão: ‘Você estará comigo no Paraíso.’” (Teofilato, Patrologia Graeca, Vol. 123, coluna 1104)

Esta citação é da Explicação de Teofilato do Santo Evangelho segundo Lucas. Ele foi escrito após Teofilato tornar-se arcebispo de Ochrid, a capital do Reino da Bulgária, por volta do ano 1090 d.C. Para entender melhor o que está dizendo Teofilato nesta citação, considere como Teofilato apresenta os seus comentários sobre a promessa de Jesus ao ladrão:

Quando o ex-blasfemador reconheceu por esta voz que Jesus era realmente um rei, ele repreendeu o outro ladrão, e disse a Jesus: “Lembra te de mim no teu reino.” Como o Senhor respondeu? “Hoje tu estarás comigo no Paraíso” (Semeron met’ emou ese en to paradeiso). Como homem, Ele estava na cruz, mas como Deus, Ele está em toda parte, tanto na Cruz e no paraíso, preenchendo todas as coisas, e em nenhum lugar ausente.” (Stade, Christopher, trans., The Explanation by Blessed Theophylact of The Holy Gospels, vol 3 (House Springs, MO: Chrysostom Press), p. 310.)

Assim, como com Hesíquio (acima), mais uma vez descobrimos que o entendimento contemporâneo predominante é que “hoje” modifica, “você estará comigo… e não “Em Verdade te digo”. Como Hesíquio, Teofilato aborda várias contradições bíblicas aparentes se “hoje” for assim entendida; e ele oferece interpretações que as resolvem. No entanto, é importante notar que o verso repontuado não é uma solução que ele considera viável.

Na tradução oferecida pela lista B-Grego, ekbiazontai é traduzida como “pressionam sobre”, que tem uma conotação neutra – como se Teofilato está simplesmente dizendo que “os outros”, pressionam sobre o ponto que eles estão fazendo, colocando a vírgula depois Sêmeron. Mas ekbiazontai (uma forma flexionada de ekbiazo) tem um significado muito mais negativo. Enquanto “pressionar sobre” é uma glosa oferecida por LSJ, o sentido não é “pressionar” como na ênfase, mas “espremer” como na aplicação de pressão, vigor, ou praticar a violência. A tradução mais exata (o que, a seu crédito, o listador do B-grego pediu) seria:

Mas outros têm abusado da palavra, colocando uma marca depois de ‘hoje’ para dizer que: ‘Em verdade vos digo hoje’, e depois acrescentam: ‘Você estará comigo em Paradise’”.[9]

A desaprovação de Teofilato é enfatizada em sua próxima frase, onde se lê “Outros, que parecem ter atingido a marca, explicam desta maneira…”.[10] Estes cristãos, Teofilato nos diz, distinguem o “céu” de “paraíso”, o último sendo “um lugar de descanso espiritual”. Desta forma, o ladrão pode realmente estar com Jesus naquele dia no paraíso, mas não ainda no céu.

Esta citação de Teofilato não nos diz quase nada sobre aqueles que pontuam Lucas 23, 43 para que “hoje” modifique “Em verdade vos digo…” A lista B-grego é correta em concluir que alguns cristãos no final do século XI compreenderam o versículo de forma semelhante à Torre de Vigia, mas não sabemos quantos eram, nem como prevalente foi o seu ensino. Tal evidência tardia parece marginalmente útil, de qualquer forma, para determinar o que Lucas inicialmente disse. É evidente, porém, que como os Hesíquio menciona, a razão que estes “outros” pontuam o verso como eles fazem, não é porque seguem uma expressão hebraica, mas porque eles tentaram resolver uma dificuldade teológica. O fato de que Teofilato poder falar em termos tão negativos sobre a pontuação alternativa – mesmo que resolvesse as aparentes contradições que ele está discutindo – sugere que ele não tinha conhecimento de quaisquer argumentos razoáveis em seu apoio. 

Scholia

A próxima citação é um resumo de Scholia de três manuscritos gregos:

alloi — to rheton ekbiazontai* legousin gar dein hypostizontas (254: hypostizantas) anaginoskein* amen lego soi semeron* eith’ houtos  epipherein to* met’ emou ese etc.

Tradução:

Outros pressionam sobre o que é falado, pois eles dizem que se deve ler, colocando uma vírgula assim: ‘Em verdade vos digo hoje’, e em seguida, adicionando a expressão da seguinte forma: ‘Você estará comig’’, etc.” (Scholia 237, 239, 254. Texto encontrado em Novum Testamentum Graece,  editio octava critica maior, por C. Tischendorf, Vol. I, Leipzig, 1869,  sobre Lucas 23, 43.

“Scholia” são anotações marginais ou notas de rodapé, adicionados a um manuscrito por um escriba, revisor posterior, ou comentarista. Sem uma descrição detalhada destas três anotações, é impossível determinar se eles datam da época da criação do manuscrito ou foram adicionados mais tarde. Em qualquer caso, as três manuscritos próprios são de muito mais tarde. De acordo com aparato crítico de Tischendorf, estes são minúsculos e datam da seguinte forma:

237 – Século X (Moscow syn 42)

239 – Século XI (Moscow syn 47)

254 – Século XI (Dresden reg A.100)

Anotações de rodapé datando de não antes do século X parecem ser uma evidência fraca, de fato, para tirar conclusões significativas sobre a intenção original de Lucas. Eles podem refletir nada mais do que “alguns” cristãos que tentam resolver a mesma dificuldade notada por Hesíquio (acima). Independentemente de quem eram “outros”, o autor do scholia dificilmente aprova a pontuação variante, pois ele usa a mesma palavra (ekbiazontai) como Teofilato (acima) para descrever a “violência” feita ao contexto em que “hoje” é juntado a “Em verdade te digo...”

Atos de Pilatos (Evangelho de Nicodemos)

A próxima citação é uma citação do apócrifo, Atos de Pilatos (também conhecido como o Evangelho de Nicodemos):

ho de eipen auto* semeron lego soi aletheian hina se ekho eis ton parad[eison] met’ emou.

Tradução:

E ele disse-lhe: ‘Hoje eu digo a verdade, que eu o terei no paraíso comigo.’” (Evangelho de Nicodemos (Atos de Pilatos) B287, um escrito apócrifo do quarto ou quinto século d.C Texto encontrado em Novum Testamentum Graece, editio octava critica Major, por C. Tischendorf, vol. I, Leipzig, 1869, sob Lucas 23, 43)

O chamado, Atos de Pilatos, juntamente com a descida ao Inferno (ver abaixo) compreendem o que veio a ser conhecido como o Evangelho de Nicodemos. As duas obras, provavelmente, não foram do mesmo autor, e os manuscritos mais antigos não contêm a descida. Tischendorf publicou duas “formas” ou recensões dos Atos em grego (cada com base em diferentes manuscritos) e uma em latim. As formas gregas são mais antigas do que a latina, com recensão A data do século V e recensão B do século VI.[11]

Você notara que a citação de Tischendorf dada pela lista B-grego lê “b.287”. O “b” indica que esta citação é de recensão B, que data do século VI. James observa que a recensão A “deve ser considerada como a forma mais original dos Atos que temos”; enquanto recensão B “é um trabalho mais tardio e difuso do mesmo material”. (James, M.R., The Apocryphal New Testament, “Introduction” to the Gospel of Nicodemus.)

Significativamente, na mesma seção citada pela lista B-grego, Tischendorf lista a recensão A como suporte a pontuação tradicional, colocando hoti antes semeron. A tradução da recensão A no ANF diz o seguinte:

E Jesus lhe disse: Amém, amém; Eu te digo: Hoje é tu estarás comigo no Paraíso.

Assim, a forma original mais antiga, a maior parte dos Atos de Pilatos tem “hoje” modificando “Eu estarei contigo…”. É a recensão mais tardia que muda o texto para que sêmeron modifique “Em verdade te digo…” o revisor mais tardio não parece ter se preocupado com a preservação da precisão da sua fonte; de fato, Cowper observa que o revisor mais tardio não considerava seu exemplar como “dando a devida importância a Maria” (Cowper, pp XCII – XCIII). Se ele não estava acima de fazer revisões com base em suas inclinações teológicas, é muito possível que ele tentou remover a “dificuldade”, observada por Hesíquio (ver acima) ao repontuar sua citação de Lucas 23, 43.

A Descida ao Inferno (O Evangelho de Nicodemos)

A citação final, dada pela lista B-grego é uma citação do Apócrifo A Descida ao Inferno (também conhecido como o Evangelho de Nicodemos):

kai eutys eipen moi hoti amen amen semeron lego soi, met’ emou ese en to parad[eiso].

Tradução:


E imediatamente ele me disse: “Verdadeiramente hoje eu te digo que tu estarás comigo no Paraíso.” (Descida ao Hades, é um escrito apócrifo do quarto século d.C. O texto é encontrado no Novum Testamentum Graece, editio octava critica Maior, por C. Tischendorf, vol. I, Leipzig, 869, em Lucas 23, 43.)

Como mencionado acima, a Descida compreende a parte 2 do chamado Evangelho de Nicodemos. Tischendorf publicou uma forma grega e duas formas em latim. Os manuscritos mais antigos do Evangelho de Nicodemos não contêm a descida. A forma grega é “intimamente ligada com o segundo texto de Nicodemus Parte I, na verdade as cópias não marcam qualquer divisão” (Cowper, p XCII.). Cowper data a recensão grega da descida “um pouco mais tarde” do que a Parte I (p. XCIII). A pontuação na descida grega, então, certamente está relacionada com a pontuação na recensão B da Parte I (Atos de Pilatos). Os mesmos comentários feitos sobre os Atos (acima) pode ser feito aqui: A pontuação neste texto representa uma tradição mais recente, que pode muito bem ter sido motivada por preocupações teológicas, em vez de fidelidade a uma fonte anterior.

CONCLUSÃO


A Torre de Vigia e seus apologistas têm oferecido várias linhas de evidência para apoiar a pontuação da TMN de Lucas 23, 43. Em cada caso, a prova não foi capaz de resistir ao rigoroso exame. Em suma, a evidência favorece fortemente a pontuação tradicional. Lucas 23, 43 é um dos 74 exemplos de uma expressão estereotipada, falada apenas por Jesus nos Evangelhos. Esta expressão nunca é modificada por um advérbio de tempo, a menos que Lucas 23, 43 fosse a única exceção. Além disso, quando todos as frases “eu te digo”, são tomados em conta, o número de expressões introdutórias não temporalmente modificadas crescem para 144. Por outro lado, não há nenhuma evidência de que Jesus nunca usou uma “expressão hebraica comum” a que se refere E.W Bullinger e tão frequentemente citada por defensores da TMN. Quando se deixa de lado justamente a evidência textual do curetoniano siriaco e Codex Vaticanus (não só porque a prova é marginal, na melhor das hipóteses, mas também porque toda a questão da pontuação correta não é propriamente caso de crítica textual), não há substancial evidência em favor da pontuação TMN.

 

As fontes patrísticas e apócrifas apresentadas na lista de discussão B-Grego provam que alguns cristãos ensinavam que Cristo desceu ao Hades após sua crucificação, e interpretavam Lucas 23, 43 em conformidade. Mas uma análise indutiva de todas as evidências sugerem que o entendimento anterior, mais importante foi que sêmeron modificava “Eu estarei com você...”, e foi mais tarde que comentaristas ofereceram a pontuação alternativa como uma maneira de evitar o que eles viam como um “dificuldade”.

Pode-se admitir que “Em verdade te digo hoje...” é gramaticalmente possível, mas improvável (se a probabilidade de 144 para 1 pode ser caracterizado como meramente “improvável”).

 

NOTAS


[1] Na verdade, que eu saiba, existem apenas cerca de uma dúzia de Bíblias em inglês que foram citados pela Torre de Vigia ou seus apologistas como colocadoras da vírgula depois de “hoje”. A maioria, se não todas, são obras de tradutores individuais, e não de comissões. Enquanto isso não prova que elas são tendenciosas ou imprecisas, é fácil de haver erros com um único tradutor, trabalhando sem os cheques-e-contrapesos de um comitê. Elas são traduções obscuras, raramente (ou nunca) são citados em trabalhos acadêmicos. O a lista de aparato de pontuação UBS4 não cita nenhuma destas para Lucas 23, 43. Em vez disso, as Bíblias citadas aparecem com mais frequência nos escritos de apologistas testemunhas de Jeová que encontram apoio ocasional para um dogma preferido em uma tradução idiossincrática. Vou abordar especificamente as Bíblias citada pela Torre de Vigia, mais adiante neste artigo.

[2] Reminiscenses of JB RotherhamCapítulo 10.

[3] George Lamsa, LAMSA, que em 1940 convenceu uma editora respeitável da Bíblia, na Filadélfia, a Winston Publishing Company, a emitir sua fraude absoluta, de “ A Bíblia traduzida do aramaico original”. Absolutamente um mercenário, e nada mais. Ele disse que “todo o Novo Testamento foi escrito em aramaico”, e ele traduziu a partir do aramaico, mas ele nunca mostrou a ninguém os manuscritos que ele traduziu. Em segundo lugar, por que Paulo escreveu em aramaico, digamos, para o povo da Galácia? Eles não sabiam mais o aramaico do que as pessoas do Rio ou São Paulo sabem aramaico.

[4] Lewis, Agnes Smith, The Four Gospels: Retranslated from the Sinaitic Palimpsest, with a Translation of the Whole Text, London: C.J. Clay and Sons, 1896.  See also, Wilson, E. Jan, The Old Syriac Gospels: Studies and Comparative Translations, Vol. 2, Piscataway, N.J., Georgias Press, 2002.

[5] Burkitt, op cit., P. 304 Burkitt também cita Barsalibi (1171) que admite que em “alguns” lugares, “hoje” vem com “Em verdade vos digo” mas não aprova essa leitura.

[6] P.J. Williams, PhD, email privado a Robert Hommel, de 06/01/2005.

[7] BDAG, p. 589.(3.a).

[8] Cf., Faulhaber, Michael, The Catholic EncyclopediaHesychius of Jerusalem.

[9] Minha própria tradução bastante literal. Stade oferece uma tradução muito mais suave: “Outros fizeram violência ao contexto destas palavras, fazendo uma pausa depois de hoje, para que se possa ler: ‘Em verdade te digo que hoje, Tu estarás comigo no Paraíso’ (Ibid.). Na patrologia Latina de Minge pode ser traduzida da seguinte forma: ‘Mas outros torcem a expressão (verbum torquent), colocando uma marca depois de hoje...”.

[10] Ibid.

[11] Cowper, B.H., The Apocryphal Gospels, p. xxvii and p. xcii

 

FONTE


For An Answere. Luke 23. Disponível em: < http://www.forananswer.org/Luke/Luke23_43.htm >. Acesso em: 01/08/2014.


https://drive.google.com/file/d/1_P7CdQjBBcQ3eYgFJKNFOTLLV0gvjDN1/view

Um breve comentário exegético de 2 Pedro


https://revistas.unasp.edu.br/kerygma/article/view/294/298

Espíritos em Prisão - pesquisa sobre 1 Pedro 3:19


https://www.youtube.com/watch?v=CRg2zcnxs9s&list=TLPQMTEwOTIwMjNFCwrHfb2z1Q&index=3













https://www.youtube.com/watch?v=f-LH2VNbvcE&list=TLPQMTEwOTIwMjNFCwrHfb2z1Q&index=5











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