O paradoxo da verdade relativa estabelecida como verdade absoluta!

 Há muito tempo, alguns estabeleceram que não há verdade objetiva, absoluta, tendo cada um a sua própria verdade e o direito de expressá-la.

Aí  ficamos pensativos sobre o que seria essa verdade relativa: 

a de que um observador na Terra teria a impressão de repouso do planeta, enquanto um fora dela a veria em movimento; 

a de que uma pessoa poderia ler um texto e interpretar de uma forma, outro de outra e, até que se estabelecessem critérios objetivos o suficiente para definir algo sobre aquilo, seria difícil definir quem estaria certo;

E percebemos que, na realidade, o que se queria era validar todo e qualquer discurso, independente das noções de não-contradição, do terceiro excluído, da identidade (atravessei e não atravessei o sinal vermelho ao mesmo tempo, o verde é roxo e não é verde porque eu quero que assim seja, algo não é algo ou é, dependendo do que o intérprete determine). 

Imagens como esta ganharam as redes sociais, as rodas de conversa...e deixou-se o óbvio (nenhuma das partes pode, efetivamente, afirmar tratar-se de 6 ou 9 por não haver informações suficientes) para abraçar a ideia de que ambos podem estar completamente certos e errados ao mesmo tempo.


Agora, a questão se inverteu: querem estabelecer uma espécie de Central da Verdade. Ela vai definir o que pode e o que não pode ser verdade, o que realmente pode e não pode ser dito, derrubando a própria noção antes defendida, provavelmente, pelas mesmas pessoas que agora agem assim, de que a verdade depende do ponto de vista de cada um.

Entramos, portanto, em um paradoxo: 

ou a verdade é relativa ao ponto de cada um poder ter e expressar a sua própria, livremente, sem que o outro diga que sua verdade é a verdade e, portanto, impeça outras de existirem;

ou a verdade pode ser definida de forma objetiva em, pelo menos, um ou mais casos e, portanto, não se pode estabelecer que cada um tenha sua própria verdade e, portanto, há um consenso de que ao menos algumas coisas podem ser estabelecidas a ponto de não serem questionadas e, mais que isso, como querem alguns, a ponto de sequer poderem ser questionadas.

Se a verdade for relativa da forma como defendem (cada um tem a sua e fim de papo), todos podem dizer quaisquer coisas e, portanto, não fará sentido estabelecer uma central de verificação da verdade.

Se a verdade não for relativa a esse ponto, será necessário uma ampla discussão com toda a sociedade para entender, definir, estabelecer e cobrar as verdades definidas como bem estabelecidas a ponto de não poderem ser derrubadas e nem mesmo questionadas. Para isso, será necessário revisitar a ideia, por exemplo, de que os textos legais são de livre interpretação não-literal, de que uma lei pode ser manipulada, minimizada e até mesmo anulada por algum intérprete (ou ela é verdade e não pode ser modificada por ninguém, ou é mentira e não pode sequer existir, e aí quem definirá se permanece ou não?). E as diversidades religiosas, como ficam? Se apenas uma das afirmações religiosas for verdadeira, todas as outras se calarão? E quem vai definir? Com quais critérios? Serão objetivos e passarão pelo teste de autorização popular?

Parece que está cada vez mais difícil viver e conviver no mundo em que estamos: 
quando uma ideia é minoritária e/ou não-dominante, os que a defendem usam o argumento de que ela deve ser mantida pelo princípio da verdade não relativa
quando essa mesma ideia se torna majoritária e/ou dominante, os que a defendem resolvem perpetuá-la sob a defesa de uma central da verdade, que fiscalize e puna todos os que se opuserem a ela.

Para mim, é muito confuso: a verdade que não é verdade deve ser mantida como verdade pelo bem da verdade, proibindo-se a possibilidade de outras verdades, até mesmo daquelas verdades que já existiam e cederam lugar para as verdades que agora querem ser, para sempre, mantidas, ainda que reconhecendo que se esse princípio fosse usado antes, as verdades antigas que foram substituídas não poderiam ser questionadas e nem substituídas. Essas verdades antigas poderão voltar para a competição contra as verdades atuais, para ver quais delas prevalecerão e serão estabelecidas, para todo o sempre, pela nova Central da Verdade?

Não sei...

Graça e paz. Maranata.








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